01 novembro 2011

O despertar...

Por Lúcia Guerra
"A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo" (Ruth Benedict)


Na busca por querer saber em que cenário Acrelândia se encontra após nossa passagem em julho de 2011, fiquei surpresa ao perceber que os agentes sociais daquela cidade haviam sido sensibilizados de alguma forma para o cuidado, a importância e o resgate cultural das pessoas daquela localidade, isso em diversos aspectos.

Em setembro de 2011 foi criado pelo Sindicato dos Trabalhadores de Educação do município o Parque Ambiental de Acrelândia, uma área ecológica que contém árvores nativas, dentre elas pés de frutas regionais e a manutenção do local é feita pelos próprios professores.



Os agentes de saúde de Acrelândia serão formados com um Curso Técnico de Capacitação, dando subsídios para o desenvolvimento de ações de promoção à saúde e prevenção de doenças, que terá duração de 8 meses. De acordo com a matéria feita pelo repórter da TV Acrelândia - Aluízio Oliveira, este curso estará instrumentalizando os agentes para que eles possam executar com qualidade o atendimento à população - tendo como tema o Papel do agente de saúde no SUS.



Uma escola da rede pública de Acrelândia, realizou uma Feira Cultural Folclórica idealizada pelos alunos com orientação de professores. Além das atividades de construção de livros de poesia, brinquedos artesanais, também foram resgatados durante o evento os diversos tipos de alimentos regionais.



As nutricionistas (Thassiana e Deise) desenvolveram uma Semana de Promoção à Alimentação Saudável, após o dia do nutricionista (31 de agosto), visitando todas as escolas com a realização desta atividade que teve como foco a merenda escolar.

31 outubro 2011

Oficinas Culinárias realizadas em Acrelândia, AC, em julho 2011 - II

Por Lúcia Guerra


Oficina Culinária com crianças de 0 a 6 anos no CRAS


Nos dias seguintes, tínhamos outras duas oficinas culinárias para realizarmos. Uma oficina com o grupo de crianças de 0 a 6 anos atendidas pelo Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) que inserimos a rotina já existente - acolher as crianças, partilhar a leitura de livros infantis com elas e depois fazer um desenho da história lida e contada. Posterior a isso, utilizamos como recurso didático a cartilha que havíamos levado, com figuras de alimentos (frutas, legumes e hortaliças), um prato no qual eles poderiam desenhar os alimentos que gostavam e levamos também cestas de frutas para que eles pudessem identificar alguns alimentos da região. No final da oficina, preparamos o suco de carambola e degustamos pêra. Pois, foi a fruta que eles disseram nunca ter experimentado.



Oficina culinária com as merendeiras das escolas de Acrelânida


Outra atividade que realizamos foi uma oficina culinária com as merendeiras das escolas de Acrelândia. Esta atividade aconteceu em conjunto com as nutricionista Thassiana e Deise que nos solicitaram uma oficina específica com esse grupo, visto a importância da utilização e preparado dos alimentos regionais na merenda escolar.

Aconteceu no período da tarde, às 14h, inciando com a palestra da nutricionista Thassiana sobre as boas práticas de manipulação de alimentos e seguiu com a palestra da Neide sobre Hortas Esquecidas tendo como foco a merenda escolar. Após as palestras realizamos um lanche com os alimentos preparados pela Neide: pão de banana, salada de mamão verde (salada tailandesa), sushi de tapioca, sucos de carambola e limão com capim cidreira. Foram distribuídas as receitas de algumas das preparações ofertadas e cartilhas sobre alimentação saudável.

Salada de papaia verde 




1 mamão bem verde, com cerca de meio quilo
1 colher (sopa) de açúcar
1 colher (chá) de sal
4 colheres (sopa) de suco de limão
3 colheres (sopa) de cheiro-verde (salsa e cebolinha) picado
2 colheres (sopa) de coentro 

4 dentes de alho picado e frito em pouco óleo até ficar crocante e escorrido
1 colher (chá) de pimenta-vermelha picada 


Com uma faca afiada, faça vários riscos no mamão e deixe sair a seiva por meia hora. Lave bem, descasque com descascador de legumes e rale no ralo grosso. Junte o açúcar e o sal diluídos no suco de limão, o cheiro-verde e o coentro. Misture com cuidado e sirva a salada polvilhada com o alho frito e a pimenta.
Rende de 4 a 6 porções

O que pode ser extraído destas duas oficinas é que na primeira, o desconhecimento das crianças quanto aos alimentos apresentados levava ao não consumo ou mesmo ao não gostar sem ao menos conhecer e ter consumido. Sendo preciso, situações práticas para reconhecimento, experimentação de sabores e ofertas constantes para geração de hábitos e identificação cultural. Na segunda, percebemos que já existia um certo reconhecimento quanto ao que foi apresentado, mas era preciso o resgate cultural e o conhecimento da importância de preparar aqueles alimentos de maneira diferente e atrativa no dia a dia, considerando sua existência, produção e cultivo local.

Oficinas Culinárias realizadas em Acrelândia, AC, em julho 2011 - I

Por Lúcia Guerra


Palestra com o grupo de pessoas da Ginástica Pública

Após a chegada dos pesquisadores (Bárbara, Pablo, Neide e Lúcia) em Acrelândia (domingo, dia 10/07/11) nos alojamos e no dia seguinte tivemos uma reunião com o Secretário de Saúde do município Claudemir Albuquerque Soares. Nesta reunião tratamos das possíveis datas e locais  para a realização das palestras, oficinas culinárias, piquenique, além de identificarmos os atores sociais que compunham aquele cenário. Por exemplo: a Ivone coordenadora do NASF, a Deise Bertolino (nutricionista/NASF), o Edinei (educador físico/NASF), a Thassiana (nutricionista da educação, responsável pela merenda escolar), o Mauro (responsável por nos fornecer informações sobre os agentes de saúde) e a Ingrid (coordenadora da Atenção Básica à Saúde). Identificamos também, locais que seriam importantes para realização das oficinas - o espaço do Centro de Cultura e Florestania e o Centro de Referência da Assistência Social/CRAS (coordenadora Jane). 


Centro de Cultura e Florestania (Foto: Fábio Look)
Centro de Referência da Assistência Social - CRAS (Foto: Fábio Look)
Com esta reunião, saímos à visitar esses lugares, conhecer essas pessoas e nos apresentarmos à elas. Fomos muito bem recebidos e todos logo se juntaram para nos auxiliar na realização das atividades.
Depois deste primeiro contato, no segundo dia in locus, iniciamos à pesquisa de campo no bairro Portelinha e ao mesmo tempo iniciava-se o reconhecimento dos alimentos disponíveis nos quintais de Acrelândia. Com o cair do dia, retornamos para casa localizada na Av. Paraná, pois  iríamos no apresentar para o grupo de pessoas da ginástica pública que o Prof. Edinei realiza no ginásio de esporte, todas as terças e quintas-feiras, às 19h (conta com a participação de algumas crianças, adolescentes e muitas mulheres adultas de 20 a 60 anos)
Havíamos combinado de após a ginástica, nos apresentarmos. A Bárbara falou um pouco sobre a pesquisa realizada em 2009 e a Neide fez o convite para a palestra dela chamada "Hortas Esquecidas", a realizar-se na quinta-feira. Assim, no outro dia seguimos com a avaliação do ambiente alimentar. 
Chegado o grande dia, nos preparamos (datashow, tela, palestra e cestas com alimentos que colhemos...tudo OK!), fomos todos para o ginásio. Aconteceu a ginástica e posteriormente, assumimos a condução da atividade. A acústica não era muito boa, mas a Neide foi no 'gogó' mesmo!

Quando ela começou a falar e mostrar as fotos dos alimentos, as pessoas ficaram muito atentas e começaram a se identificar com que ela apresentava, perguntavam, relembravam e reconheciam os alimentos. A curiosidade foi despertada! era visível nos rostos, nas conversas de canto um com o outro que algo familiar estava sendo resgatado.
O resultado disso foi que no final da palestra, as cestas ficaram vazias: o cacau, a carambola, o caju, o tamarindo, a banana da terra, o jambo e os demais alimentos que estavam nas cestas, foram levados pelos participantes - que um pouco acanhados pediram se poderiam levar.

Oficina Culinária com o grupo de crianças e o grupo da ginástica pública

Nesta primeira semana que chegamos na cidade, aconteceu a Conferência Municipal de Saúdena Escola Estadual Marcilho Pontes uma Feira Afro-Brasileira (sexta-feira, 15/07/11). Estivemos presente no primeiro evento e no segundo, até tentamos participar, mas quando fomos a escola a coordenadora nos informou que seria somente a tarde - período em que retornaríamos ao campo para avaliação do ambiente alimentar. Apesar disso, consegui resgatar essa atividade por meio de uma matéria feita pelo repórter da TV Acrelândia - Aluízio Oliveira.



No sábado, fomos até a rádio da cidade Alternativa FM 87,9 para divulgarmos o piquenique que aconteceria no final da tarde, às 17h, na praça em frente a Unidade Básica de Saúde. O anúncio dizia sobre o horário, local e convidava as pessoas à levarem sucos e quitutes preparados pelos próprios moradores, além de lembrá-los para levarem os seus próprios talhes, pratos, copos e uma toalha para o piquenique. Ressaltando que isso era importante para o não consumo de recicláveis e a geração de lixo com esses materiais. Como a Neide descreve no post anterior 'Piquenique em Acrelândia', esta foi uma atividade surpreendente!
Na semana seguinte, terça-feira (19/07/11) às 15h, a Deise realizou uma atividade com o grupo de gestantes e nutrizes no CRAS que a Bárbara acompanhou. O tema foi "Mitos e verdades sobre Gestantes e Bebês", além da palestra também foram utilizadas algumas dinâmicas. Houve muita interação, envolvimento, descontração e curiosidade de todas as participantes com a troca de saberes, segundo a Deise. Antes do término da atividade, a Bárbara apresentou as situações encontradas por meio das pesquisas já reliazidas em Acrelândia: somente 1 a cada 10 crianças ficavam em aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, 80% já consumiam leite de vaca, em crianças com até os 2 anos de idade 50% não consumiam frutas e hortaliças, foi observado o predomínio de alimentação pastosa (mingaus) que resulta na deficiência de vitaminas e minerais encontrada e também a presença de pão doce, biscoitos, macarrão instantâneo, café, salgadinhos, doces e refrigerantes na dieta das crianças. Nesta atividade percebeu-se o interesse das gestantes em saberem que elas poderiam mudar essas situações apresentadas pela Bárbara.
No final da tarde, às 17h, havíamos marcado uma Oficina Culinária com as crianças do piquenique e às 19h uma Oficina Culinária com o grupo da ginástica pública.
A oficina com as crianças foi muito interessante, primeiro chegou a Elaine e após,   duas crianças mas, nós pensamos...que pena! não vieram todas. Em seguida, chega a Bárbara com um monte crianças que ela saiu "panhando" (chamando/buscando) pela cidade.
As crianças adoraram, curiosas em saberem o que tinha sobre aquele mesa farta e ao mesmo tempo diversa do desconhecido. Elas perguntaram, questionaram - como a Neide encontrou, onde ela tinha colhido aqueles alimentos. Até começarem a por a mão na massa e experimentarem a beldroega e todos acharem azedinho! a carambola, o tamarindo...o jambo, o caju, nem se fala! Durante a oficina a Neide teve uma breve conversa com eles sobre o consumo de alimentos ultra-processados, como salgadinhos e sucos em pó, foi ótima a descrição dela. No final da oficina eles preparam um delicioso suco de carambola!


Terminou a oficina com as crianças e elas ainda quiseram ficar por ali. Então, resolvemos fazer outra atividade utilizando a cartilha que levamos sobre alimentação saudável. Nela eles identificavam frutas, legumes e hortaliças, desenhavam alimentos e aprendiam a importância de lavar as mãos antes de comer.
Além das crianças e o grupo de pessoas da ginástica, participaram também os pesquisadores Alejandro M. Katzin e Ariel M. Silber, do departamento de Parasitologia da USP que foram para o trabalho de campo no Remansinho-RO e a pesquisadora Marcia Castro, demógrafa e professora-assistente da Escola de Saúde Pública de Harvard que foi fazer um estudo piloto de uma pesquisa sobre migrações e aspectos espaciais envolvidos na epidemiologia da malária no Remansinho-RO.
A Neide deu início a oficina e contou com três ajudantes: eu (Lúcia Guerra), a Bárbara e a Maria. Enquanto ela preparava o omelete com beldroega e a moqueca de jaca verde; nós fazíamos os sucos de tamarindo, carambola, carambola com couve, limão com capim cidreira, caju e por fim encerramos com uma salada de frutas (jambo, mamão, banana, carambola e um pouco de suco de tamarindo).
Todos gostaram e aprovaram as preparações! Pediram para a Neide as receitas e claro, queriam saber o segredo daqueles sabores especiais de cada preparação. Ao final estávamos exaustos, porém satisfeitos com os desfechos das atividades do dia.

28 outubro 2011

Uma comida tipicamente paulistana preparada com os alimentos locais, adquiriu nova roupagem na Oficina Culinária com os pesquisadores em Acrelândia, AC

Por: Lúcia Guerra


Na sexta-feira pela manhã (22/07/11) ficamos sem parte do nosso elenco, pois a Neide Rigo e a Bárbara retornaram à São Paulo - SP. Mas, logo chegaram a Profª Marly e as estudantes da Universidade de Harvard Liz Lopes e Victoria Macias que acompanhariam as atividades do projeto, realizadas em Acrelândia durante uma semana. 
Profª Marly

Liz Lopes
Victoria Macias
Com esta chegada, além de matarmos a saudade (entre abraços, risos e lágrimas de felicidade), andamos pela cidade para reconhecimento do local.
No dia seguinte (sábado 23/07) pela manhã fomos ao Ramal do Granada (área rural de Acrelândia) e a tarde à Vila Redenção - distrito do município de Acrelândia para avaliar o ambiente alimentar.  Então, a noite aconteceu a oficina culinária com os pesquisadores que estavam no município naquele momento. 
A ideia foi da Profª Marly e sem muita cerimônia todos colocaram a 'mão na massa'. Assim, checamos se tinham todos os ingredientes necessários para o preparo das pizzas e graças a receita de pão caseiro que a Neide havia deixado, esta transformou-se em nossa receita da massa de pizza!
Mas, antes disso houve todo um preparo dos participantes: lavar bem as mãos,  colocar toca e claro, o avental personalizado do Projeto Acre. 
Todos se movimentaram para organizar o local de confecção das pizzas - varanda da casa onde foi nossa estadia em Acrelândia. Enquanto preparávamos a massa, molho e recheio...o Prof. Marcelo preparou uma pipoca até que as pizzas ficassem prontas. 
Inicialmente, todos auxiliaram no preparo da massa das pizzas e depois cada um foi demonstrando suas habilidades específicas (Pablo Secato - foi ao Esquinão "lanchonete ao lado de casa" pegar umas assadeiras/formas de pizza e cuidou do forno para pizzas não queimarem. Ah! também foi responsável por descascar o abacaxi; Profª Marcia Castro - picou os tomates para o molho; Profª Marly - preparou o molho, higienizou as hortaliças para salada e conduziu a montagem das pizzas e a Miluska cuidou de desfiar o abacaxi para a pizza doce). 
Para entreter a 'moçada' - o Matias e o Tomás, providenciou uma brincadeira com mímicas e todos ao redor participaram (Liz, Victoria, Vitor, Ariel, Miluska, Pablo, Marcia etc).

Finalmente, cardápio pronto: salada de rúcula, alface e pepino; pizzas de berinjela com pimentão, de queijo, de palmito e no final preparamos um pizza doce de abacaxi com castanha do Brasil. 


No preparo das pizzas utilizamos a seguinte receita:


Massa
1Kg de farinha de trigo
1 xícara de óleo
1 colher de sopa de fermento caseiro ou 10g de fermento industrializado
1 ovo
1 1/2 xícara de chá de água
1 colher se sopa de açúcar
2 colheres de chá de sal
Preparo: em uma bacia grande misture o fermento e a água, até que esteja bem diluído. Acrescente o ovo, o sal, o açúcar e a manteiga, misture bem. Em seguida acrescente a farinha de trigo até dar o ponto (massa lisa, úmida e macia). Deixe crescer. Enquanto isso prepare o molho e o recheio.

Molho
1Kg de tomate maduro
2 cebolas médias
3 dentes de alho
1 colher de sopa de azeite
1 molho de tomate pronto
cheiro verde e sal a gosto
Preparo: em uma panela, aqueça o azeite e doure a cebola e o alho. Após, acrescente o tomate. Deixe engrossar e adicione o molho de tomate pronto e por último o cheiro verde.

Recheio1
2 berinjelas grandes picadas
2 vidros de palmito picado
1 pimentão grande verde picado
1 pimentão grande vermelho picado
300g de queijo mussarela
1 cebola grande picada em rodelas
cheiro verde a gosto
azeite
Preparo das pizzas salgadas: abra uma fina camada de massa sobre a assadeira, cubra-a com pouco molho e acrescente o recheio (palmito, berinjela e pimentão) e regue com um pouco de azeite. Deixe assar por aproximadamente 50 min.


Recheio2
1 abacaxi 
12 castanhas do Brasil raladas
1/2 lata de leite condensado
3 pedaços médios de canela em pau
Preparo da pizza doce: descasque o abacaxi, desfie em pedaços pequenos e depois leve ao fogo para cozinhar por 20 min com a canela em pau. Depois de pronto, monte a pizza. Cubra a assadeira com uma fina camada de massa, espalhe metade do leite condensado, acrescente o abacaxi e por cima o restante do leite condensado. Por fim, salpique a castanha do Brasil ralada e leve ao forno. Deixe assar por aproximadamente 50 min.
Obs.: lembre-se de pré-aquecer o forno por 10 min. em temperatura elevada.
Redimento: 5 pizzas


Um comida típica paulistana não poderia faltar em uma  noite de sábado em Acrelândia, AC. Preparada pelos próprios pesquisadores, esta oficina culinária de pizzas nos faz refletir sobre a difusão da cultura, que não é inerte, mas dinâmica e que pode ser resgatada em qualquer momento, mesmo não estando em nossa região de origem. Pois, o homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Sendo assim, os homens têm a capacidade de questionar os seus próprios hábitos e modificá-los (LARAIA, 2001).

27 outubro 2011

Hortas de Acrelândia

Por: Lúcia Guerra


Sejam elas: caseiras, de bairros, hortas comerciais ou horta municipal. Em julho de 2011, observamos em todas elas variedades de frutas, legumes e verduras. Ainda que modestas, mas, para nós (pesquisadores) foi motivo suficiente de admiração! Pois, os estudos realizados nesta região mostraram baixa ingestão destes alimentos. Uma vez que, esta área tem como um dos fatores limitantes para a frequente disponibilidade destes alimentos, a sazonalidade. 
Por tal motivo, verifica-se que nessa região há duas estações muito bem marcadas: a estação das chuvas (outubro-abril)  e a estação das secas (maio-setembro), na segunda estação tem-se a presença da friagem - característico da região amazônica, e neste mesmo período a população vivencia a falta do abastecimento público de água, o aumento de viroses, da ocorrência de queimadas urbanas e florestais, que leva ao aumento das doenças respiratórias e oculares relacionadas.
No primeiro momento de reconhecimento de campo, a equipe conduzida pelo vasto conhecimento de Neide Rigo em identificar espécies de plantas comestíveis, considerando as que possivelmente são características dessa região, conseguimos fazer um bom levantamento! Havia caju, maracujá, cajá manga, carambola, tamarindo, graviola, cupuaçu, jaca etc, como ela descreve detalhadamente no post anterior "Frutos dos quintais de Acrelândia".
No segundo momento, a equipe de campo identificou que nos supermercados e em um açougue da cidade  estava à venda legumes e hortaliças fornecidos por um distribuidor que era identificado na embalagem dos produtos como Projeto II - havia endereço, telefone para contato, no entanto, ninguém sabia dizer quem era esse tal distribuidor. Por exemplo: era o dono de uma horta? localizava-se perto ou longe de Acrelândia? há quanto tempo existia aquela distribuição? por quem eram distribuídos? 
Pois, segundo a Profª Marly que logo identificou tal mudança: "não tinha isso nas outras vezes em que os pesquisadores estiveram no município". Foi uma pergunta que não quis calar, então, fomos atrás desse tal Projeto II.
Mais que isso, visitamos novamente as hortas que já haviam sido identificadas no primeiro momento (a horta do Sr. João - a localizada no centro da cidade e no bairro da Portelinha; a horta do Sr. Aristídes, a horta municipal) e também as hortas que fomos descobrindo ao longo do período em que estávamos em Acrelândia (a horta do Sr. Trazíbe, Sr. Antônio, Sra Eliane, uma que dono não estava em casa, a do Projeto II e a do Sr. Guto - uma horta hidropônica).
Cada uma tinha sua particularidade, umas com mais ou menos variedades de alimentos plantados e disponíveis para venda, e também diferiam quanto as técnicas aplicadas para cultivo, umas mais rudimentares outra já com mecanismos de irrigação e outra hidropônica. 
Nessas hortas de bairro e comerciais, encontramos alimentos como: couve, cebolinha verde, salsinha, coentro, pimenta de cheiro, almeirão, alface, rúcula, agrião, chicória, jambú, mostarda, serralha, açafrão/cúrcuma, urucum, maxixe, quiabo, jiló, feijão de vagem/feijão de corda, vargem, milho, mandioca, inhame, cará-moela, caxi, abóbora cabotiã, moranga, abobrinha, pimentão, pepino, berinjela, chuchu, tomate, banana, mamão, melancia, abacaxi e limão. 
Na fala de cada pessoa que cultivava essas hortas, nós observamos que havia mais que o simples fato de plantar aqueles alimentos, existia o cuidado, o sonho de ampliar a horta e consequentemente, aumentar a distribuição daqueles alimentos que eles próprios consideram importantes na alimentação das pessoas daquele lugar. Era uma simplicidade que expressava o prazer de fazer aquele trabalho, reclamavam que não havia incentivo dos gestores municipais quanto a capacitação de manejo e de estrutura. Mas, era visível que essa limitação não os impedia de continuar as suas lidas diárias.
No sítio em que fomos visitar a horta do Projeto II, além de frutas, legumes e hortaliças, o Sr. Carlos também criava peixes e sua esposa fazia queijo para venda. Ah! foi nesta horta que conhecemos o caxi, que segundo a Neide é "como uma abóbora verde, porém densa e adocicada" (http://come-se.blogspot.com/2008/03/fartura-produtos-da-estao.html). Compramos para preparar em casa, fizemos no almoço e todos adoraram! Olha aí a foto do caxi e uma receita deliciosa extraída do blog da Neide Rigo (http://come-se.blogspot.com/2008/03/caxi-com-camaro.html)


                                                   

Fotos: Neide Rigo - blog Come-se

Caxi recheado com camarão

2 caxis descascados, cortados ao meio e escavados para tirar o miolo esponjoso e suas sementes
Galhos de ervas aromáticas (usei manjericão-anis, manjericão comum e alfavaca) Sal a gosto
Recheio1 colher (sopa) de azeite de urucum ou comum
1 cebola picada
1 dente de alho amassado
1 colher (sopa) de pimentão vermelho picado
1 colher (sopa) de pimentão verde picado
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes, picada
1 tomate pequeno sem pele nem semente, picado
500 g de camarão previamente temperado com sal e pimenta
1 colher (sopa) de farinha de trigo
2 colheres (sopa) de leite
4 colheres (sopa) de cheiro-verde (salsa e cebolinha) picado
4 colheres (sopa) de provolone ralado

Modo de fazer
Apóie as metades de caxi na parte de cima de uma panela grande de vapor, polvilhe sal na cavidade e cubra com uns galhinhos de manjericão, só para perfumar. Cozinhe por cerca de 15 minutos ou até amaciar.
Enquanto isso, faça o recheio: numa panela, aqueça o azeite e doure nele a cebola e o alho. Junte os pimentões e a pimenta e o tomate. Deixe aquecer e, em seguida, coloque o camarão. Cozinhe só até ficar opaco e junte o leite com a farinha diluída. Desligue o fogo assim que engrossar um pouco a mistura. Prove o sal, corrija se necessário, e acrescente as ervas.
Recheie as metades de caxi, espalhe o queijo e leve ao forno bem quente, preaquecido, só para derreter o queijo.
Rendimento: 4 porções bem servidas

A horta do Sr. Trazíde foi a que observamos maior variedade de alimentos cultivados, tinha até o cará-moela que a Neide havia mostrado na sua palestra sobre Hortas Esquecidas.


Fotos: Neide Rigo - blog Come-se
No seu blog (http://come-se.blogspot.com/2008/06/car-do-ar-car-moela-ou-inhame-do-ar.html) a Neide Rigo disponibilizou esta receita espetacular com cará-moela:

Carne com cará-moela

1 colher (sopa) de óleo
2 dentes de alho
500 g de coxão duro
1 colher (chá) de sal ou a gosto
2 folhas de louro2 tomates sem pele picados
2 xícaras de água fervente
1 cebola picada
½ pimentão verde picado
1 pitada de pimenta-do-reino
4 carás descacados e picados
2 colheres (sopa) de salsinha
Numa panela de pressão aqueça o óleo e junte o alho socado. Quando ameaçar a dourar, junte a carne com o sal e vá mexendo até começar a fritar. Junte as folhas de louro e o tomate e mexa delicadamente. Despeje por cima a água fervente, tampe e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de meia hora, marcada a partir do momento em que a válvula começou a chiar. Desligue o fogo, espere acabar a pressão e abra. Confira se a carne está macia. Se não, cozinhe por mais um pouco. Junte a cebola, o pimentão, a pimenta-do-reino e o cará (inhame). Deixe cozinhar por cerca de 15 minutos ou até o cará ficar bem macio, mas não mole. Confira o sal e corrija, se necessário. Reitere a pimenta se quiser. E polvilhe com salsinha picada.
Rende: 4 porções

Na horta do Sr. Antônio, localizada na saída de Acrelândia para Plácido de Castro, observamos que sem quer ele cultivava beltroega e mais, perguntei se ele conhecia ou comia. Olha o que ele respondeu: " ah! ixi...comia isso demais lá em Minas Gerais, minha mãe fazia pra gente quando eu era pequeno. Ela fazia com mingau de milho, tinha um gosto azedinho a folha. A gente gostava!" Mas, porque? hoje o Sr. não come mais? e nem leva pra vender como a rúcula e a alface? "Ah não néh, eles vão ri é da gente,... falando que isso é mato! No meu tempo isso era bom, a gente plantava em casa, todo quintal tinha. Hoje em dia ninguém come isso não menina!"

Foto: Neide Rigo - blog Come-se
Beldroega  nas ruas de Acrelândia (Foto: Neide Rigo)

A beldroega estava presente não só na horta do Sr. Antônio, mas na esquina da rua em que íamos para o Cebolinha (lanchonete, pizzaria e ponto de 'balada' em Acrelândia), perto do local de estoque dos alimentos da merenda escolar - sob responsabilidade da Thassiana (nutricionista da Secretaria de Educação) e tinha também, vários pés de beldroega próximo a um canteiro na janela da sala da Deise (nutricionista do Núcleo de Apoio à Saúde da Família - NASF). Ah! o caruru estava por lá também.

Caruru nos quintais de Acrelândia (Foto: Neide Rigo)

Que rende esse quiche delicioso que a Neide disponibilizou a receita no blog dela (http://come-se.blogspot.com/2009/01/quiche-de-caruru-verdadeiro-ou-quiche.html)



Quiche de caruru 

Massa
1 ovo
1 pitada de sal ou a gosto
75 g de manteiga gelada
150 g de farinha de trigo

Para o recheio
2 colheres (sopa) de manteiga
Meia cebola picada
50 g de folhas de caruru limpas (lavadas e higienizadas com desinfetante de verduras)
2 colheres (sopa) de salsinha picada
3 ovos
200 g de creme de leite gelado, sem o soro ou creme de leite fresco
100 g de queijo de leite de cabra duro ralado grosso
1 pitada de pimenta-do-reino
1 pitada de noz-moscada
Sal a gosto

Prepare a massa: numa tigela, misture o ovo com o sal e a manteiga ralada em ralo grosso (ou cortada em cubinhos minúsculos). Numa bancada coloque a farinha, faça uma cova no meio e despeje aí o ovo com a manteiga. Vá colocando farinha por cima e amassando devagar com os dedos até formar uma massa homogênea (não se deve trabalhar demais a massa para não estimular a formação do glúten e deixá-la dura e elástica – ela deve ficar maleável). Se precisar, junte um pouco de água (vai depender do tamanho do ovo e da umidade da farinha). Molde uma bola com a massa, coloque num saco plástico e guarde no congelador por 15 minutos. Preaqueça o forno a 180 ºC. Entre duas folhas de plástico, estenda a massa com um rolo até ficar com mais ou menos 2 milímetros de espessura. Forre com ela uma forma refratária de 23 centímetros, sem untar (se quiser, forre a forma ajeitando a massa até as bordas com os dedos) e leve ao forno. Deixe assar por 7 minutos. Retire do forno e deixe esfriar.

Prepare o recheio: numa frigideira, derreta a manteiga, junte a cebola picada e deixe dourar em fogo alto. Coloque as folhinhas de caruru e refogue com um pouco de sal até que fiquem macias. Junte a salsinha picada e espere esfriar. Numa tigela, bata os ovos com o creme de leite, o queijo ralado, a pimenta-do-reino, a noz-moscada e sal a gosto. Misture tudo com a verdura refogada.
Finalizando: distribua o recheio sobre o fundo preassado. Leve ao forno preaquecido a 200 ºC, e deixe assar por aproximadamente 40 minutos ou até o recheio ficar firme e dourado. Sirva com salada de folhas verdes.
Rende: 8 porções

07 outubro 2011

O espaço social alimentar: A situação gerou a prática e resultou na troca de conhecimentos


Por: Lúcia Guerra 

Como prever que a oficina com os agentes de saúde de Acrelândia geraria tal imprevisto? O de ter que encerrar ainda no período matutino todo preparo para uma oficina prevista para durar o dia todo.  Na parte da manhã, teríamos uma palestra sobre hortas esquecidas que tinha como propósito sensibilizar e resgatar hábitos e práticas alimentares esquecidos ao longo do tempo. À tarde, uma palestra sobre diabetes e hipertensão com intuito de sondar conhecimentos prévios dos participantes sobre o assunto e de alguma forma sensibilizá-los da importância de ter uma alimentação saudável utilizando alimentos, temperos, ervas que temos no fundo do quintal - nada de temperos prontos daquelas marcas famosas que nós já conhecemos.

Na sexta-feira (22/07/11), tivemos a despedida da Neide e da Bárbara, que retornaram para São Paulo. Saudades! Mas, as atividades continuavam e eu  fiquei com a responsabilidade de conduzir a oficina com os agentes de saúde, junto com as nutricionistas Deise (do NASF) e Tassiana (da educação/merenda escolar). Nos reunimos neste mesmo dia e foi quando assumi a responsabilidade de preparar o café da manhã para os agentes, tendo como modelo os ensinamentos da Neide (uma culinarista ou um anjo, não sei ao certo, que gentilmente partilhou com tanta singeleza os seus vastos conhecimentos comigo e que acabou despertando o belo que estava adormecido em mim). No dia a dia, no observar, no ajudar, no colher, no conhecer e reconhecer, no fotografar, no alinhar para fotografar e no preparar os alimentos ali encontrados, muitas coisas ficaram registradas. A tal ponto de gerar o pão caseiro, o suco de carambola, o cuscuz, o sushi de tapioca que fizeram parte do café da manhã servidos aos agentes. 


Desde o sábado, 23 de julho, o contato com a coordenadora da Atenção Básica do Município,   Ingrid,  já havia sido feito, estava tudo certo e os ingredientes, ok. No entardecer quieto do domingo, fomos, Pablo, Miluska e eu,  colher carambolas. Foram tantas, que tivemos que passar em casa antes de continuarmos as coletas. Na busca por tamarindos, jambos e folhas de bananeiras, Marcia Castro se juntou a nós. Tudo certo - fermento caseiro vivo e aerado, carambolas, jambos e folhas de bananeiras bem lavados. Deixei os pães crescendo e logo, bem cedinho,  iria assá-los e também preparar a tapioca, o suco das carambolas para levar tudo bem fresquinho para a oficina. Logo que despertei,  às cinco da amanhã, iniciei as atividades culinárias de preparo. Logo, a Marly e a Liz, e depois a ajudante Maria, chegaram para ajudar e então finalizamos. 


Tudo pronto: o Pablo leva o datashow para apresentação dos resultados da pesquisa realizada em 2009, a palestra das hortas esquecidas, as cestas de frutas, os sucos nas garrafas térmicas, o cafezinho e os outros alimentos preparados.


Servimos o café da manhã para os agentes de saúde e observamos os comentários: “mas o que é isso, suco de carambola?”, "nossa, tapioca com banana? hum que delícia! O que mais que tem? Erva doce? e esse gostinho de coco?”, receita especial da Neide. “E esse pão? que legal, na folha de bananeira...ficou bonito!” “pão com manteiga? e café com leite!” “e isso...é cuscuz? foi você quem fez? você quem preparou tudo isso? Ficou muito gostoso! Pode comer mais?...” Pode, pode sim, preparamos para vocês! “Que tanto de açúcar coloca no café?”, “Achei o suco meio sem doce! Pode colocar mais açúcar?", "Melhor não, né, elas já fizeram com a quantidade necessária!”. Etc. Essas foram algumas das curiosas e apreensões extraídas no murmurar do café da manhã (Ah! Como não ter a Neide tão presente naquele ritual?). Uma satisfação, um desafio iniciado, o resultado do convívio expresso de maneira muito forte.


Após o café da amanhã, a imprevisível notícia: "Teremos que terminar a oficina neste período da manhã, pois a pessoa responsável por fazer os almoço dos agentes não pode vir!” Pensei: E agora, José? A festa acabou... E rapidamente me veio: vamos todos juntos preparar o almoço! Temos todos os ingredientes? O que falta?, o cardápio: arroz, estrogonofe, batata palha e salada. Não tinha a carne. Pablo corre ao açougue e compra a carne que falta (o anjo da bicicleta)! Bom, agora você conversa com os agentes, acho que eles não vão querer, será? cozinhar? Ah! eles preferem ir embora!


Expliquei a situação para todos, lancei a pergunta e, para minha surpresa, homens e mulheres (agentes de saúde) levantaram os seus braços em sim e se dispuseram a preparar o nosso almoço!  Que experiência! Então, dei início à palestra preparada pela Neide Rigo: Hortas esquecidas. Nesse momento, minhas experiências pessoais fervilhavam e, como um filme, elas passavam uma a uma em minha mente! Até que me lembrei da recordação que a Neide deixou embaixo do meu travesseiro quando ela retornou a São Paulo – um saquinho plástico que era para eu relembrar as nossas andanças por Acrelândia. Nossa! Foi o meu porto seguro, este símbolo, vai entender! 


Cada agente se apresentou dizendo o nome, a região de atuação do PSF e o que eles tinham construído a respeito do que é ser um agente de saúde: “um elo, uma ponte entre o conhecimento sobre saúde e a população”, “é ser alguém em que as pessoas confiam, pois entramos nas casas das pessoas para dizer algo importante”, “ter a responsabilidade com a função que nos foi confiada”.


Depois da palestra fomos todos para a cozinha, como mostra o vídeo: uns picando carne, outros lavando as hortaliças e no final tudo saiu uma delícia! Apareceram até umas crianças que comeram as frutas que estavam nas cestas. Algo também inusitado foi a presença do repórter Aluísio que acompanhou as preparações culinárias deste dia.


Almoço pronto, mesa preparada e todos saborearam a delícia da atitude, da partilha, da coragem, da iniciativa e da união: a vivência e a prática se uniram para gerar conhecimento. Após o delicioso almoço, aí sim, o programado: a palestra da tarde sobre hipertensão e diabetes iniciou com uma salva de palmas para todos que preparam a comida. O sono e a preguiça foram embora e encerramos a palestra às 16 horas!

Disso tudo, uma grande lição: o espaço social alimentar é algo real! Onde o ambiente cultural alimentar se coloca, mesmo em meio ao ambiente avassalador dos alimentos ultra-processados, do marketing que estimula o consumo e impõe práticas alimentares pouco saudáveis. Retomar às práticas de consumo dos alimentos tradicionalmente básicos não é uma tarefa fácil, mas, instigante! Retornar ao passado e resgatar as práticas vivenciadas na infância, na adolescência,  seja naquele local ou nas diversas regiões do Brasil de onde cada uma daquelas pessoas vieram, é constatar que hábitos alimentares mais saudáveis já foram vivenciados e é preciso retomá-los já, agora! O simples, o que “eu” produzo em casa, o que tenho no fundo do quintal tem um valor do qual eu mesma talvez tivesse me esquecido!