Em julho de 2011, houve acompanhamento das crianças que apresentaram deficiência de Vitamina A na pesquisa realizada em 2009 e neste mesmo período realizou-se uma pesquisa sobre Ambiente Alimentar do município. Assim, os pontos de disponibilidade e acesso aos alimentos, como mercados, lanchonetes, restaurantes, bares, sorveterias, hortas e pontos de lazer (parques, praças, quadras de esporte) foram avaliados e localizados por meio de GPS pelos pesquisadores.
Juntamente com a avaliação do Ambiente Alimentar de Acrelândia, também foram realizadas Ofícinas Culinárias e um pique-nique com os diversos grupos etários (crianças, adolescentes e adultos) tendo em vista o incentivo ao reconhecimento e consumo de alimentos saudáveis, principalmente de frutas, legumes e verduras que estão disponíveis naquele local.
O Ambiente Alimentar foi avaliado por meio de questionários estruturados e direcionados à cada tipo de estabelecimento onde estavam disponíveis alimentos, sejam eles, industrializados ou não. Este momento da pesquisa ocorreu em toda a área urbana do município, em parte da área rural (Ramal do Granada) e em Vila Redenção - um distrito de Acrelândia.
Além de avaliar o ambiente alimentar, o acolhimento e a curiosidade dos responsáveis pelos estabelecimentos, nos permitiu compartilhar a percepção que aquela população tem sobre uma alimentação saudável e conhecer este "ambiente" foi além da avaliação formal com questionários. Os registros fotógráficos se encarregaram de sensibilizar o que foi escrito anteriormente. Junto a esta atividades ocorreu a divulgação das oficinas culinárias que facilitou o reconhecimento de hábitos alimentares e a troca de experiências de cultivo, preparo e consumo dos alimentos: - a Dona Diná e suas filhas no Mercado dos Colonos, o Restaurante da Dona Naza, os moradores com quintais que generosamente forneciam a carambola, o tamarindo, as folhas das bananeiras para nossas atividades; e as hortas de bairro do Sr. Aristídes, Sr. Trazibe, Sr. João, a horta comercial do Carlos e sua familía, a horta hidropônica do Guto e a "horta da prefeitura" que ainda estava se "moldando" como horta, são exemplos importantes disto.
Aconteceram oficinas culinárias com um grupo de mulheres que faziam aeróbica com o educador físico - conhecido como Prof. Edinei, vale lembrar que este foi o primeiro grupo de pessoas que identificamos em Acrelândia como o possível espaço para a realização desta atividade. Após, encontros e conversas, foram também realizadas oficinas culinárias com dois grupo de crianças e a importante surpresa da atividade que aconteceu com os agentes de saúde. Chamo de grande surpresa, pois, havíamos marcado uma capacitação sobre hipertensão e diabetes que acabou se tornando uma ofícina culinária, porque preparamos todos juntos o nosso almoço e o "acaso" gerou uma relevante troca de experiências culinárias.
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DESCRIÇÃO DE PESQUISADORES QUE ESTAVAM PRESENTES EM ACRELÂNDIA, AC - EM JULHO 2011
DESCRIÇÃO DE PESQUISADORES QUE ESTAVAM PRESENTES EM ACRELÂNDIA, AC - EM JULHO 2011
Frutos do Norte
Por Prof. Marcelo - Pesquisador de doenças tropicais, especialmente malária, na Amazônia brasileira/USP e editor do blog Pé na Lama (http://marcelo-penalama.blogspot.com/)
Por Prof. Marcelo - Pesquisador de doenças tropicais, especialmente malária, na Amazônia brasileira/USP e editor do blog Pé na Lama (http://marcelo-penalama.blogspot.com/)
Durante três semanas de julho, enquanto uma equipe de campo se deslocava para as atividades no Remansinho, outros membros da equipe realizaram diversas atividades de promoção da alimentação saudável em Acrelândia. Essas atividades envolveram três nutricionistas -- Neide Rigo e as alunas de doutorado Lúcia Guerra e Bárbara Lourenço -- que trabalharam sob a coordenação de Marly Augusto Cardoso, docente da Faculdade de Saúde Pública da USP.
O excelente blog de Neide Rigo, chamado Come-se, descreve muitas dessas atividades. Neide conta também histórias colhidas durante suas duas semanas de estadia entre nós, em Acrelândia. Vejam, por exemplo, o post sobre frutos dos quintais de Acrelândia. Ou sobre o piquenique que ela realizou por lá, com alimentos locais. Tem muito mais: fotos de oficinas culinárias e muitas impressões sobre a cidade e seus habitantes. Uma visita ao blog da Neide realmente vale a pena.
Neide Rigo durante oficina culinária para merenderias em Acrelândia |
O blog de Ariel M. Silber, colega da USP, relata suas impressões sobre o trabalho de promoção de alimentação saudável em Acrelândia.
La culinaria y la nutrición en la expedición amazónica: un lujo
Por Prof. Ariel - Professor, pesquisador da USP e editor do blog 'vida en sampa, brasil'
A expedição para a Amazônia acreana teve um componente inesperado: sob a coordenação da Marly (colega e amiga, nutricionista da Faculdade de Saúde Pública - USP) houve um grupo de nutricionistas realizando oficinas, dando aulas, levantando dados e informações de campo a respeito da situação nutricional da população de Acrelândia e arredores. Dentre as pessoas da área que estavam ai, contamos durante a primeira semana com a edificante presença de Neide Rigo, nutricionista e culinarista, autora deste blog, de receitas e histórias de cozinha, onde comenta sobre as diferentes e inusitadas formas de criar delícias com valor nutricional usando coisas que a gente ás vezes nem suspeita que são comestíveis. A questão é que Neide foi para Acrelândia para realizar oficinas culinárias locais. Como é precavida, ela estudou bastante sobre a flora da região, andou a pequena cidade e aos arredores, mapeou árvores, hortas caseiros, jardins e canteiros com plantas de interesse gastronômico e nutricional. Em muitíssimos casos os donos não sabiam que o que tinham no jardim davam (por exemplo) frutos comestíveis. A Neide foi vista na pequena cidade amazônica subindo nas árvores, passando cercas, abrindo portões para chegar até uma folha verde ou um fruto de sabor inusitado. Com a ajuda da Bárbara, o Pablo e especialmente a Lúcia, chegava novamente com cestas carregadas de delícias sobre as quais nada sabíamos. Ai começava o trabalho de laboratório: elaborar um suco com um sabor diferente, bem refrescante e hidratante, cozinhar uma variedade de panqueca, preparar um recheio de tapioca, ou uma salada. Fomos experimentando durante uma semana sabores e combinações de vegetais e carnes, frutas e especiarias conhecidas e desconhecidas... todos nós declaramos gostar de algo que antes repelíamos: o coentro ou a jaca, a carambola ou o couve... não importa... a cada dia era uma festa de cores e sabores diferentes, e o jogo de adivinhar de que se tratava. Essas experiências eram repetidas em oficinas, nas quais vi o milagre de uma senhora raspar (literalmente) uma fonte com um tipo de recheio de pastel preparado com jaca verde e outras coisas do estilo. Incrível! Valeu Neide!
Neide en acción
Bárbara en acción
La disputa por el espacio de trabajo en el cuartel general: Alejandro,Marcelo y Márcia de un lado, y Bárbara, Pablo (atrás) y Neide (a la izquierda, fuera del cuadro) por otro
Bárbara y Pablo en acción
Lúcia en acción
Presentamos un producto terminado: canelones de... no me acuerdo, pero estaban riquísimos!
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Come-se volta de Acrelândia
Por Neide Rigo - Culinarista, editora do Blog Come-se, membro da equipe de pesquisa (http://come-se.blogspot.com/2011/07/come-se-volta-de-acrelandia.html)
Voltei de Acrelândia na sexta-feria à noite e encontrei no aeroporto um amigo que brincou dizendo que para o Acre só mesmo a trabalho, como foi meu caso. De verdade, confesso que estou louca pra voltar e se for para passear, melhor ainda. Tanta coisa ainda deixei de conhecer. E isto não me cansa.
Como sempre, a mala veio cheia, tão cheia que usei parte do direito de bagagem da Bárbara: castanhas do Brasil, doces de cupuaçu, coador à moda do seringueiro (batismo meu), folhas de sororoca e sororoquinha, farinha de tapioca dura como sagu, para mingau, farinha de mandioca de Cruzeiro do Sul, biscoitos Miragina, pés de moleque (bolo de massa puba com castanha na palha da bananeira - só desta iguaria, cerca de 8 quilos que vou dividir com quem for ver a aula de invólucros no Paladar, sábado) e até um croatá. No mais, boas lembranças.
A recente amiga Bárbara veio junto, mas já estou com saudade também dos amigos que ficam mais uma semana na casa, Lúcia, Pablo, Miluska, as crianças. A segunda semana foi bastante animada embora de muito trabalho. Chegou o amigo Marcelo (tratado com mais respeito, poderemos chamá-lo de professor Marcelo Urbano, afinal é professor titular no departamento de Parasitologia do ICB-USP e especialista em doenças tropicais - estudou medicina com o Marcos, dividiram apartamento no Crusp) com as crianças Matias e Tomás, que deixaram a casa muito mais alegre, e mais três professores (Ariel Mariano e Alejandro Miguel do ICB e Márcia Castro, de Harvard). Os três ficaram hospedados numa pousada bem perto, mas jantávamos sempre juntos numa mesa grande formada com duas menores, forrada com toalha de plástico. Às vezes tomávamos juntos também o café.
Como sempre, a mala veio cheia, tão cheia que usei parte do direito de bagagem da Bárbara: castanhas do Brasil, doces de cupuaçu, coador à moda do seringueiro (batismo meu), folhas de sororoca e sororoquinha, farinha de tapioca dura como sagu, para mingau, farinha de mandioca de Cruzeiro do Sul, biscoitos Miragina, pés de moleque (bolo de massa puba com castanha na palha da bananeira - só desta iguaria, cerca de 8 quilos que vou dividir com quem for ver a aula de invólucros no Paladar, sábado) e até um croatá. No mais, boas lembranças.
A recente amiga Bárbara veio junto, mas já estou com saudade também dos amigos que ficam mais uma semana na casa, Lúcia, Pablo, Miluska, as crianças. A segunda semana foi bastante animada embora de muito trabalho. Chegou o amigo Marcelo (tratado com mais respeito, poderemos chamá-lo de professor Marcelo Urbano, afinal é professor titular no departamento de Parasitologia do ICB-USP e especialista em doenças tropicais - estudou medicina com o Marcos, dividiram apartamento no Crusp) com as crianças Matias e Tomás, que deixaram a casa muito mais alegre, e mais três professores (Ariel Mariano e Alejandro Miguel do ICB e Márcia Castro, de Harvard). Os três ficaram hospedados numa pousada bem perto, mas jantávamos sempre juntos numa mesa grande formada com duas menores, forrada com toalha de plástico. Às vezes tomávamos juntos também o café.
Por duas vezes fiz baixaria para todos. Não, não é o que você está pensando. Trata-se do prato de cuscuz com carne moída e ovo frito que imitei daquele que vi no Mercado de Rio Branco.
Prato típico do Acre - "baixaria" (na foto, a preparação feita pela Neide Rigo) |
Eu, fazendo pão. Foto da Lúcia |
Churrasquinho do Snikão |
Levei meu fermento e fiz pão várias vezes, inclusive um de banana da terra (banana comprida, como é chamada por lá), com castanhas, para a oficina com as merendeiras. Também fiz tapioca, panquecas, macarrão com linguiça. Tudo meio improvisado, mas deu certo, ninguém passou aperto. Ou ainda comíamos um churrasquinho com mandioca e farinha no Skinão, onde todo vinagrete tem repolho. Aliás, vinagrete em Acrelândia leva repolho e depois falo de outras particularidades como o quibe de arroz, as saltenhas ou o charuto gigante de couve. Só devo lembrar que a cidade fica mais perto da Bolívia (28 km da fronteira) que de Rio Branco, a capital do Acre, que está a cento e pouco quilômetros. E que a cidade vive um momento político delicado, afinal o prefeito e sua mãe estão presos, acusados de serem mandantes no assassinato de um vereador. Como me disse um senhor ao me ver fotografar fachadas de bares, neste mundo há gente de tudo quanto é jeito. E ali, mais ainda, já que a população é formada com famílias de toda parte do Brasil, de índios morenos a gaúchos de chimarrão.
O mesmo avião que nos trouxe para São Paulo levou daqui para lá mais três pesquisadoras: duas de Harvard e a Professora Marly Cardoso, da nutrição USP, minha amiga, mulher do Marcelo, mãe das crianças, coordenadora do projeto no qual me inseri. Duas linhas de pesquisa em Acrelândia, em saúde e nutrição, partem daquela casa comprada pelo casal com recursos próprios e que abriga pesquisadores sempre que necessário e sem frescuras. Um grande feito.
Estava apreensiva com a situação dormir-em-beliche num quarto quatro por cinco cheio, mas foi tranquilo e divertido. Mesmo quando podia ficar na mesa da varanda trabalhando sossegada no lap top e mesmo não gostando de futebol, preferia digitar ajoelhada no chão só pra ficar junto daquele amontoadinho de gente vendo o jogo - nosso quarto era o único com televisão e as crianças não perdiam uma partida (assim como a Bárbara e o Pablo). A Miluska, que ficou no mesmo quarto, é uma bióloga peruana que também trabalha com doenças tropicais, mas na área laboratorial, e chegou na segunda semana com os professores. Foi com ela que aprendi que sororoca é a mesma coisa que hoja de bijau, usada no peru para embalar peixes e outros pratos, como fazemos com a folha de bananeira. Assunto para a aula no Paladar.
O mesmo avião que nos trouxe para São Paulo levou daqui para lá mais três pesquisadoras: duas de Harvard e a Professora Marly Cardoso, da nutrição USP, minha amiga, mulher do Marcelo, mãe das crianças, coordenadora do projeto no qual me inseri. Duas linhas de pesquisa em Acrelândia, em saúde e nutrição, partem daquela casa comprada pelo casal com recursos próprios e que abriga pesquisadores sempre que necessário e sem frescuras. Um grande feito.
Estava apreensiva com a situação dormir-em-beliche num quarto quatro por cinco cheio, mas foi tranquilo e divertido. Mesmo quando podia ficar na mesa da varanda trabalhando sossegada no lap top e mesmo não gostando de futebol, preferia digitar ajoelhada no chão só pra ficar junto daquele amontoadinho de gente vendo o jogo - nosso quarto era o único com televisão e as crianças não perdiam uma partida (assim como a Bárbara e o Pablo). A Miluska, que ficou no mesmo quarto, é uma bióloga peruana que também trabalha com doenças tropicais, mas na área laboratorial, e chegou na segunda semana com os professores. Foi com ela que aprendi que sororoca é a mesma coisa que hoja de bijau, usada no peru para embalar peixes e outros pratos, como fazemos com a folha de bananeira. Assunto para a aula no Paladar.
Lúcia, Pablo e Bárbara |
Na primeira semana passei os dias sob sol forte andando por toda a cidade com a Lúcia e com a Bárbara que tinham que preencher questionários sobre pontos de venda, e com o Pablo que comandava o GPS e também ajudava na pesquisa. Isto foi importante para conhecer a gente e a comida. Fui vendo o que tinha de comer nas vendas e nos quintais. E fui assim construindo minhas oficinas, baseadas no que encontrei por lá de comidas e de gente com suas histórias que me cativa com facilidade com a generosidade e simpatia, como a dona Diná e o Seu Luiz, a Rosângela, a Luli, a Raimunda, a dona Ivone, a menina Elaine e a pequena Ingrid que tem medo de malamem (e livrai-nos do malamem, conhece?).
No domingo passado tivemos a agradável visita surpresa da leitora Patrycia Coelho e seu marido, Marcos Afonso, diretor da Biblioteca da Floresta, em Rio Branco. Eles são de Rio Branco, tocam o blog Varal de Ideias e apareceram lá, com bolinhos de água de laranjeira com frutas nas mãos, depois que respondi a um comentário seu dando as coordenadas. Jamais poderia imaginar que ela apareceria, por isto a alegria da surpresa. Ganhei deles ainda um dvd sobre o Acre.
Os outros dias foram de preparo, testes para as oficinas, coleta urbana de tamarindos, carambolas, jaca verde, mamão, manga, jambo e tudo o que poderia inspirar algum prato para as oficinas com as mulheres, com as crianças, com as mulheres merendeiras. Ainda tive tempo de ir a uma colônia (sítio) ver a Raimunda, uma amazonense, preparar minha encomenda de pé-de-moleque, que o Matias chamava de pé-de-chulé.
No domingo passado tivemos a agradável visita surpresa da leitora Patrycia Coelho e seu marido, Marcos Afonso, diretor da Biblioteca da Floresta, em Rio Branco. Eles são de Rio Branco, tocam o blog Varal de Ideias e apareceram lá, com bolinhos de água de laranjeira com frutas nas mãos, depois que respondi a um comentário seu dando as coordenadas. Jamais poderia imaginar que ela apareceria, por isto a alegria da surpresa. Ganhei deles ainda um dvd sobre o Acre.
Os outros dias foram de preparo, testes para as oficinas, coleta urbana de tamarindos, carambolas, jaca verde, mamão, manga, jambo e tudo o que poderia inspirar algum prato para as oficinas com as mulheres, com as crianças, com as mulheres merendeiras. Ainda tive tempo de ir a uma colônia (sítio) ver a Raimunda, uma amazonense, preparar minha encomenda de pé-de-moleque, que o Matias chamava de pé-de-chulé.
Seu Luiz e dona Diná colhendo folhas de sororoca |
Ah, o argentino Ariel também tem um blog bem bacana escrito em espanhol. Já postou lá algumas fotos da viagem. É o www.blogariel1.blogspot.com . O Marcelo também tem o www.marcelo-penalama.blogspot.com. Lá você pode ver muitas fotos da região e saber mais sobre seu trabalho sobre malária e outras doenças tropicais naquela região.
Elaine cuida como mãe das irmãs gêmeas Clara e Bia |