20 maio 2012

Acrelândia 2012: o preparo das oficinas

Coleta urbana - mamão, taioba, alfavaca, cúrcuma, folha de bananeira

Por Neide Rigo

Fernanda Cobayashi e eu chegamos em Acrelândia com algum tempo pra planejarmos as oficinas. Eu brincava com ela dizendo que me sentia muito lisonjeada por ter na cozinha como ajudante uma pós-doc,  que quebrou muita castanha e tirou muita polpa de cupuaçu na tesoura, até o ponto de se enjoar do cheiro.  Mas a verdade é que nós duas trabalhamos muito. E não só. Estávamos em seis na casa (as outras, pesquisadoras do projeto de Malária) e todas nos ajudaram muito na hora das oficinas. Para saber mais sobre os dois projetos, de nutrição e de malária, acho que este outro post da minha primeira ida a Acrelândia explica melhor: http://come-se.blogspot.com.br/2011/07/come-se-volta-de-acrelandia.html


No domingo ainda tivemos a visita da amiga Patrycia e do marido Marcos, que nos levaram vários presentes gastronômicos de Rio Branco, onde moram, já que desta vez não tivemos tempo para visitar a cidade: massa de tapioca, ingás, coquinhos oricuri, cuscuz com leite de castanha,  castanhas frescas, pé-de-moleque na folha de bananeira e batatas de taioba. Aliás, ela também postou no blog dela, Mesa na Floresta,  sobre a visita.  As castanhas foram muito úteis nas oficinas - numa delas usamos na forma de "leite". 



Cupuaçu em terreno baldio


Cupuaçus desperdiçados no chão, da vizinha Oliete
Percebemos que alguns poucos dias (no nosso caso, uma semana) são importantes para que se estabeleçam contatos pessoais com a comunidade e também com os profissionais da área de nutrição do município.  Embora tivéssemos feito uma programação,  sujeita a alterações, assim que chegamos à cidade, já começamos a mudar de rumo. A primeira sugestão para a oficina estava ali no quintal da vizinha da casa onde nos  hospedamos. Havia muitos cupuaçus desprezados no chão. Da primeira vez que estivemos lá notamos a grande quantidade de pés de cupuaçus, mas já não era mais época. E só agora, em plena safra, percebemos a quantidade de frutas desperdiçadas nos quintais. Não só cupuaçu, mas também acerolas, jambos e vários temperos.  Ganhamos muitos cupuaçus da vizinha, Oliete, que alegou não ter tempo para prepará-lo, e já os reservamos para as oficinas.  

Coentro de folha larga (ou chicória), num quintal 

Canteiro de cebolinha 
Horta e canteiro de cebolinha à altura da janela para facilitar a colheita
No dia seguinte, andando pela cidade, uma mulher nos convidou a ver seu quintal,  repleto de chicória ou coentro de folha larga, que crescia feito mato. Em outro, muita cebolinha. 


Uma característica dos moradores da cidade de Acrelândia é que quase todos têm também um pedaço de terra na zona rural onde podem plantar. Quando não tem, ganham frutas e hortaliças dos vizinhos. Por isto, banana-da-terra e abóbora são itens fáceis de se ter em casa sem que se os tenham comprado. Outros ingredientes podem ser encontrados nos espaços públicos como praças, calçadas e terrenos baldios. É o caso, por exemplo, de alfavaca, cúrcuma, taioba ou mamão que usamos nas oficinas. 

Dona Rute

Cúrcuma

Dona Vera e pimenta olho de peixe

Dona Vera e pé de pimenta-do-reino

Conhecemos ainda os quintais de Dona Rute e Dona Vera, que nos cederam gengibre, taioba, cúrcuma, pimenta-do-reino, pimenta ardida.   Reservamos também um dia para conhecer o Projeto Dois, uma horta muito perto da cidade tocada pelo Seu Dorival e seu filho Carlinhos. Como defensivos contra pragas usam apenas uma calda de pimenta e temperos.  Numa manhã, que tinham entrega na cidade, ganhamos deles uma cesta de hortaliças muito frescas - aproveitamos os pepinos e a rúcula para uma salada que levamos para o piquenique na escola rural. 


Horta do Seu Dourival - Projeto 2 

Carlinhos nos trazendo hortaliças

Fernanda com as hortaliças colhidas naquela manhã
Sabendo que o comportamento alimentar da população de Acrelândia não difere muito daquela do restante do país, seguindo uma tendência de redução no consumo de frutas e hortaliças e aumento de produtos industrializados, e diante do cenário encontrado, não foi difícil definir o formato final das oficinas.

No que se refere à escolha de ingredientes, um dos objetivos, além de incentivar o consumo de frutas e hortaliças, era valorizar o uso de produtos locais e daí a importância de visitar casas, mercados e hortas no município. 

Cará moela subindo em pé de mamona

Muita taioba e cúrcuma em terreno baldio 

Fernanda com a sacola cheia - nossa coleta urbana

Outros produtos acreanos - pesentes da Patrycia, que também serviram para as oficinas

Um comentário:

  1. Parabéns!
    Dessa forma, unindo esforços e ajudando a muitos e que contribuiremos na qualidade de vida, começando pela a alimentação é prioridade, sim.

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