05 setembro 2011

Piquenique em Acrelândia


Por: Neide Rigo

A ideia era de um piquenique misto, com crianças, adultos e quiçá homens. Mas em Acrelândia fazer piquenique é algo novo, todo mundo diz que vai e na hora h fica com medo de pagar mico. Prevendo um encontro vazio, Bárbara, Lúcia, Pablo e eu resolvemos chamar diretamente as crianças, já no dia. Por que não pensamos nisso antes? As poucas que chamamos compareceram sem preconceitos, novidadeiras, com garrafinha de refresco (artificial, mas acho que sairam do piquenique com outras ideias), copos de vidro, pratos, talheres, lençol.

Durante o dia passamos por uma rua com uma caramboleira carregada. Batemos palma e pedimos algumas para a dona Edna. Eram muitas, bojudas, quinadas em verde contrastando com o alaranjado brilhante, estrelas espichadas.  Pode levar todas, eu não gosto mesmo. E as meninas, perguntei. Elas também não gostam, preferem suco de saquinho (o pozinho com corantes e aromatizantes), respondeu. Pegamos uma sacolada. No caminho, uns meninos brincavam. Ofereci carambolas e eles não recusaram, quiseram mais. Aproveitei para convidá-los para o piquenique logo mais. Corram lá, tomem um banho (estavam encardidinhos), levem copos, chamem suas mães. Mas tem que pagar, né,  perguntou um.  Depois de explicar tudo como seria, sairam correndo pra pedir para as mães.

Depois, durante a pesquisa numa sorveteria, encontrei Elaine e suas duas irmãzinhas gêmeas, Bia e Clara.  Começamos a conversar e fiz o convite, só por fazer - não sei porque achei que não fosse.  E reforcei: nada de descartáveis, levem seus próprios copos, pratos e talheres. Se não tiver toalha de mesa, leve lençol mesmo. Tá bom, disse ela.

Chegou a hora, pegamos nossas cestas e fomos para o lugar escolhido, um gramado embaixo de uma mangueira. Não tinha muita comida, pois ainda tínhamos esperança que adultos aparecessem com suas próprias matulas. Qual nada! Só a Dirce e logo mais Dona Teresa. Antes disso, um grupo de jovens da quadrilha local (quadrilha de dança, que fique claro) se aproximou e um deles perguntou: você não são daqui não, né?  Embora todo mundo da cidade seja de fora, nós eramos muito mais forasteiros, pois os de fora dali não eram farofeiros afinal.  Acharam a ideia divertida. Ficaram em volta e nós, na maior saia justa,  pois se partíssimos o pão não teríamos para quem chegasse.

Dali a pouco vimos dona Teresa chegando desconfiada com um monte de menininhos, seus netos, atrás. Todos banho-tomados, com roupa boa.  E ainda uma filha adolescente com um bebê.  Tínhamos feito suco de carambola e quis oferecer, mas não tínhamos copo. Foi então que ela apresentou a sacola aliviada. -  Eu falei pros meninos, se for mentira esta coisa de levar copo e desse piquenique, vocês vão ver. Ah, de vocês se eu passar mico. O suco fez sucesso.

Logo Elaine chegou de bicicleta com uma das irmãzinhas e mais duas amigas. Trouxe pratos e um lençol (descobri há algum tempo que nem todo mundo tem toalha de mesa e a falta dela não é motivo para não se fazer piquenique), além de uma garrafa de suco de limão artificial que ela mesma tinha preparado.

Este era nosso piquenique, carambolas, suco de carambola, pão de banana da terra, manteiga, duas maçãs e quatro bananas da Dirce e a alegria de todos que estavam ali. As maçãs pareciam iguarias. Logo alguém pegou uma e eu propus dividir as duas entre todos mundo. Proposta aceita e via-se pelas carinhas que não era uma fruta do dia-a-dia, era uma fruta para dias de festa. Já as carambolas, meio azedas, eram boas para suco. Mesmo assim, Elaine, espontaneamente, passou a cortá-las em rodelas e a servir. Primeiro para os adultos ela anunciou. E ajeitou as estrelas com capricho sobre um guardanapo, tudo por conta própria. Depois convidou os meninos, que ela não conhecia, a aprender a fatias estrelas.  Em algum momento, quando falei que foi bom eles terem levado seus próprios utensílios, ela reforçou: afinal, não queremos ser poluidoras do planeta, né? Uma menina linda. Assim como as amigas que a acompanhavam.

Lúcia e Bárbara propuseram brincadeiras e aquele meninos acanhados de repente gargalhavam de soluçar. Umas graças. Ficaram tão felizes que só foram embora porque já estava escurecendo e as mães ficariam preocupadas. Mas quiseram porque quiseram marcar outro piquenique no domingo.  No mesmo horário, estávamos  lá novamente,  mas desta vez furaram. Depois nos encontramos novamente e disseram que as mães não deixaram.

Algumas coisas são certas: muitos adultos acham que piquenique é coisa infantil, mas ficam felizes como criança quando participam de um;  criança, indistintamente,  adora piqueniques e desconfio que é uma forma de incentivá-los a comer frutas e outras comidas que não comem em casa.

Vendo as fotos, você já sabe quem é quem. Clique para ver maior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário