Por: Lúcia Guerra
Sejam elas: caseiras, de bairros, hortas comerciais ou horta municipal. Em julho de 2011, observamos em todas elas variedades de frutas, legumes e verduras. Ainda que modestas, mas, para nós (pesquisadores) foi motivo suficiente de admiração! Pois, os estudos realizados nesta região mostraram baixa ingestão destes alimentos. Uma vez que, esta área tem como um dos fatores limitantes para a frequente disponibilidade destes alimentos, a sazonalidade.
Por tal motivo, verifica-se que nessa região há duas estações muito bem marcadas: a estação das chuvas (outubro-abril) e a estação das secas (maio-setembro), na segunda estação tem-se a presença da friagem - característico da região amazônica, e neste mesmo período a população vivencia a falta do abastecimento público de água, o aumento de viroses, da ocorrência de queimadas urbanas e florestais, que leva ao aumento das doenças respiratórias e oculares relacionadas.
No primeiro momento de reconhecimento de campo, a equipe conduzida pelo vasto conhecimento de Neide Rigo em identificar espécies de plantas comestíveis, considerando as que possivelmente são características dessa região, conseguimos fazer um bom levantamento! Havia caju, maracujá, cajá manga, carambola, tamarindo, graviola, cupuaçu, jaca etc, como ela descreve detalhadamente no post anterior "Frutos dos quintais de Acrelândia".
No segundo momento, a equipe de campo identificou que nos supermercados e em um açougue da cidade estava à venda legumes e hortaliças fornecidos por um distribuidor que era identificado na embalagem dos produtos como Projeto II - havia endereço, telefone para contato, no entanto, ninguém sabia dizer quem era esse tal distribuidor. Por exemplo: era o dono de uma horta? localizava-se perto ou longe de Acrelândia? há quanto tempo existia aquela distribuição? por quem eram distribuídos?
Pois, segundo a Profª Marly que logo identificou tal mudança: "não tinha isso nas outras vezes em que os pesquisadores estiveram no município". Foi uma pergunta que não quis calar, então, fomos atrás desse tal Projeto II.
Mais que isso, visitamos novamente as hortas que já haviam sido identificadas no primeiro momento (a horta do Sr. João - a localizada no centro da cidade e no bairro da Portelinha; a horta do Sr. Aristídes, a horta municipal) e também as hortas que fomos descobrindo ao longo do período em que estávamos em Acrelândia (a horta do Sr. Trazíbe, Sr. Antônio, Sra Eliane, uma que dono não estava em casa, a do Projeto II e a do Sr. Guto - uma horta hidropônica).
Cada uma tinha sua particularidade, umas com mais ou menos variedades de alimentos plantados e disponíveis para venda, e também diferiam quanto as técnicas aplicadas para cultivo, umas mais rudimentares outra já com mecanismos de irrigação e outra hidropônica.
Nessas hortas de bairro e comerciais, encontramos alimentos como: couve, cebolinha verde, salsinha, coentro, pimenta de cheiro, almeirão, alface, rúcula, agrião, chicória, jambú, mostarda, serralha, açafrão/cúrcuma, urucum, maxixe, quiabo, jiló, feijão de vagem/feijão de corda, vargem, milho, mandioca, inhame, cará-moela, caxi, abóbora cabotiã, moranga, abobrinha, pimentão, pepino, berinjela, chuchu, tomate, banana, mamão, melancia, abacaxi e limão.
Na fala de cada pessoa que cultivava essas hortas, nós observamos que havia mais que o simples fato de plantar aqueles alimentos, existia o cuidado, o sonho de ampliar a horta e consequentemente, aumentar a distribuição daqueles alimentos que eles próprios consideram importantes na alimentação das pessoas daquele lugar. Era uma simplicidade que expressava o prazer de fazer aquele trabalho, reclamavam que não havia incentivo dos gestores municipais quanto a capacitação de manejo e de estrutura. Mas, era visível que essa limitação não os impedia de continuar as suas lidas diárias.
Fotos: Neide Rigo - blog Come-se
Caxi recheado com camarão
2 caxis descascados, cortados ao meio e escavados para tirar o miolo esponjoso e suas sementes
Galhos de ervas aromáticas (usei manjericão-anis, manjericão comum e alfavaca) Sal a gosto
Recheio1 colher (sopa) de azeite de urucum ou comum
1 cebola picada
1 dente de alho amassado
1 colher (sopa) de pimentão vermelho picado
1 colher (sopa) de pimentão verde picado
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes, picada
1 tomate pequeno sem pele nem semente, picado
500 g de camarão previamente temperado com sal e pimenta
1 colher (sopa) de farinha de trigo
2 colheres (sopa) de leite
4 colheres (sopa) de cheiro-verde (salsa e cebolinha) picado
4 colheres (sopa) de provolone ralado
Modo de fazer
Apóie as metades de caxi na parte de cima de uma panela grande de vapor, polvilhe sal na cavidade e cubra com uns galhinhos de manjericão, só para perfumar. Cozinhe por cerca de 15 minutos ou até amaciar.
Enquanto isso, faça o recheio: numa panela, aqueça o azeite e doure nele a cebola e o alho. Junte os pimentões e a pimenta e o tomate. Deixe aquecer e, em seguida, coloque o camarão. Cozinhe só até ficar opaco e junte o leite com a farinha diluída. Desligue o fogo assim que engrossar um pouco a mistura. Prove o sal, corrija se necessário, e acrescente as ervas.
Recheie as metades de caxi, espalhe o queijo e leve ao forno bem quente, preaquecido, só para derreter o queijo.
Rendimento: 4 porções bem servidas
A horta do Sr. Trazíde foi a que observamos maior variedade de alimentos cultivados, tinha até o cará-moela que a Neide havia mostrado na sua palestra sobre Hortas Esquecidas.
Fotos: Neide Rigo - blog Come-se
No seu blog (http://come-se.blogspot.com/2008/06/car-do-ar-car-moela-ou-inhame-do-ar.html) a Neide Rigo disponibilizou esta receita espetacular com cará-moela:
Carne com cará-moela
1 colher (sopa) de óleo
2 dentes de alho
500 g de coxão duro
1 colher (chá) de sal ou a gosto
2 folhas de louro2 tomates sem pele picados
2 xícaras de água fervente
1 cebola picada
½ pimentão verde picado
1 pitada de pimenta-do-reino
4 carás descacados e picados
2 colheres (sopa) de salsinha
Numa panela de pressão aqueça o óleo e junte o alho socado. Quando ameaçar a dourar, junte a carne com o sal e vá mexendo até começar a fritar. Junte as folhas de louro e o tomate e mexa delicadamente. Despeje por cima a água fervente, tampe e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de meia hora, marcada a partir do momento em que a válvula começou a chiar. Desligue o fogo, espere acabar a pressão e abra. Confira se a carne está macia. Se não, cozinhe por mais um pouco. Junte a cebola, o pimentão, a pimenta-do-reino e o cará (inhame). Deixe cozinhar por cerca de 15 minutos ou até o cará ficar bem macio, mas não mole. Confira o sal e corrija, se necessário. Reitere a pimenta se quiser. E polvilhe com salsinha picada.
Rende: 4 porções
Na horta do Sr. Antônio, localizada na saída de Acrelândia para Plácido de Castro, observamos que sem quer ele cultivava beltroega e mais, perguntei se ele conhecia ou comia. Olha o que ele respondeu: " ah! ixi...comia isso demais lá em Minas Gerais, minha mãe fazia pra gente quando eu era pequeno. Ela fazia com mingau de milho, tinha um gosto azedinho a folha. A gente gostava!" Mas, porque? hoje o Sr. não come mais? e nem leva pra vender como a rúcula e a alface? "Ah não néh, eles vão ri é da gente,... falando que isso é mato! No meu tempo isso era bom, a gente plantava em casa, todo quintal tinha. Hoje em dia ninguém come isso não menina!"
Foto: Neide Rigo - blog Come-se
Beldroega nas ruas de Acrelândia (Foto: Neide Rigo)
A beldroega estava presente não só na horta do Sr. Antônio, mas na esquina da rua em que íamos para o Cebolinha (lanchonete, pizzaria e ponto de 'balada' em Acrelândia), perto do local de estoque dos alimentos da merenda escolar - sob responsabilidade da Thassiana (nutricionista da Secretaria de Educação) e tinha também, vários pés de beldroega próximo a um canteiro na janela da sala da Deise (nutricionista do Núcleo de Apoio à Saúde da Família - NASF). Ah! o caruru estava por lá também.
Caruru nos quintais de Acrelândia (Foto: Neide Rigo)
Quiche de caruru
Massa
1 ovo
1 pitada de sal ou a gosto
75 g de manteiga gelada
150 g de farinha de trigo
Para o recheio
2 colheres (sopa) de manteiga
Meia cebola picada
50 g de folhas de caruru limpas (lavadas e higienizadas com desinfetante de verduras)
2 colheres (sopa) de salsinha picada
3 ovos
200 g de creme de leite gelado, sem o soro ou creme de leite fresco
100 g de queijo de leite de cabra duro ralado grosso
1 pitada de pimenta-do-reino
1 pitada de noz-moscada
Sal a gosto
Prepare a massa: numa tigela, misture o ovo com o sal e a manteiga ralada em ralo grosso (ou cortada em cubinhos minúsculos). Numa bancada coloque a farinha, faça uma cova no meio e despeje aí o ovo com a manteiga. Vá colocando farinha por cima e amassando devagar com os dedos até formar uma massa homogênea (não se deve trabalhar demais a massa para não estimular a formação do glúten e deixá-la dura e elástica – ela deve ficar maleável). Se precisar, junte um pouco de água (vai depender do tamanho do ovo e da umidade da farinha). Molde uma bola com a massa, coloque num saco plástico e guarde no congelador por 15 minutos. Preaqueça o forno a 180 ºC. Entre duas folhas de plástico, estenda a massa com um rolo até ficar com mais ou menos 2 milímetros de espessura. Forre com ela uma forma refratária de 23 centímetros, sem untar (se quiser, forre a forma ajeitando a massa até as bordas com os dedos) e leve ao forno. Deixe assar por 7 minutos. Retire do forno e deixe esfriar.
Prepare o recheio: numa frigideira, derreta a manteiga, junte a cebola picada e deixe dourar em fogo alto. Coloque as folhinhas de caruru e refogue com um pouco de sal até que fiquem macias. Junte a salsinha picada e espere esfriar. Numa tigela, bata os ovos com o creme de leite, o queijo ralado, a pimenta-do-reino, a noz-moscada e sal a gosto. Misture tudo com a verdura refogada. Finalizando: distribua o recheio sobre o fundo preassado. Leve ao forno preaquecido a 200 ºC, e deixe assar por aproximadamente 40 minutos ou até o recheio ficar firme e dourado. Sirva com salada de folhas verdes.
Rende: 8 porções