Por Neide Rigo
Depois de ter dado oficinas culinárias no Senegal, fico feliz de saber que não preciso de muita coisa além de umas bocas de fogo e uma bancada para dar o recado. Uma bacia de água e alguns panos limpos ajudam. Já, um teto e cadeiras para sentar podem ser muito confortáveis, especialmente em se tratando do calor seco do Senegal ou do clima quente e úmido da Amazônia, mas não são essenciais. Então, este espaço que usamos no CRAS (centro de referência de assistência social), a convite da nutricionista Deise Bertolino, do NASF (centro de apoio à saúde da família), era um luxo. Uma sala comum com um fogão doméstico, uma bancada, cadeiras e, luxo dos luxos, ar condicionado.
O objetivo da oficina era falar um pouco com o grupo de gestantes atendido pela Deise sobre alimentação saudável ante produtos industrializados e ensinar a fazer algumas coisas, como pão que elas poderiam preparar para a família, incrementando a farinha branca com algum amiláceo local, e, quem sabe, ainda vender para melhorar a renda da família. Usamos abóbora madura.
Estava tudo organizado para a oficina quando começou a chover. Choveu muito no horário programado e, enquanto esperávamos a chuva abrandar, a oficina foi desmarcada pela Deise porque ali, quando chove, ninguém sai de casa. Já tinha dado a hora e ninguém apareceu. Então, melhor cancelar. Muitas gestantes moram longe, tem que enfrentar ruas de barro, e preferem não sair. Fernanda Cobayashi e eu ficamos desoladas, com os pães quentinhos esperando na varanda, todos os ingredientes separados e etapas semi-prontas, mas tentamos nos conformar. Fizemos café, fatiamos um pão ainda quente e, com as costas curvadas de frustração, estávamos quase debruçadas na mesa quando a nutricionista ligou dizendo que algumas gestantes haviam chegado. Aprumamos os ânimos e corremos para lá com nossas tralhas, ainda a tempo de ensinar a fazer pão, quiabos no vapor, bananas grelhadas sem gordura e infusão de capim santo com especiarias. Tivemos pouco tempo, pois as moças precisavam ir embora na hora certa para não chegarem de noite em casa. Mas deu tempo para mostrar alguns temperos presentes nos quintais e nos mercados locais e que elas não conheciam, falar do sódio presente nos temperos prontos, do excesso de açúcar, gordura e aditivos nos produtos industrializados, dos ingredientes nutritivos que podem incluir nos pães, do jeito de cozinhar legumes no vapor para diminuir frituras, nas ervas aromáticas que podem usar para fazer infusões e como elas podem ser gostosas quando temperadas com especiarias. Algumas botaram a mão na massa e depois todas puderam provar.
Poucas daquelas moças cozinham em casa. Numa pergunta geral, responderam que quem cozinha é a mãe. Muitas são jovens gestantes, de quinze, quatorze anos, mas que um dia, se tudo der certo, hão de ter suas próprias casas, cozinhar para os próprios filhos, saber o que é bom para elas e para a família. Mães recentes e de primeira viagem também vieram com seus bebês.
Algumas fotos
Fernanda e eu, esperando a chuva passar |
Fernanda, cortando maçã para colocar no chá (o restante, comeram) |
Os dois bebês ficaram quietinhos |
Ingredientes comprados, colhidos, ganhados |
Elas gostaram de aprender a fazer pão |
Até quem não gostava de quiabos, comeu e gostou |
Pão de abóbora
1 envelope de fermento biológico seco (10 g)
1 ½ xícara de água morna
1 colher (sopa) de sal
3 colheres (sopa) de açúcar
500 g de abóbora madura cozida, fria, sem a casca - cerca de 2 xícaras da polpa amassada
1 ovo
Farinha de trigo até dar o ponto - cerca de 1 quilo (pode variar conforme a umidade da abóbora)
4 colheres (sopa) de óleo ou manteiga
Numa tigela, misture o fermento com um pouco da água. Deixe dissolver até formar um creme. Junte o restante da água, o açúcar e o sal e misture bem. Adicione a abóbora em purê, o ovo e o óleo e misture bem. Se quiser, passe esta mistura pelo liquidificador para ficar bem lisa. Vá juntando farinha de trigo aos poucos. Quando ficar difícil de mexer, passe a massa para uma superfície de trabalho enfarinhada e comece a trabalhar com as mãos, juntando farinha à medida que amassa, até formar uma massa homogênea, lisa, modelável, que se solte das mãos. Se não tiver bancada, trabalhe a massa dentro da própria bacia. Forme uma bola com a massa, cubra com plástico ou um pano. Espere crescer até dobrar de volume (caso não tenha experiência com pães, faça uma bolinha com a massa e deixe num copo com água em temperatura ambiente – quando ela subir à superfície, a massa certamente estará no ponto). Divida a massa em três ou quatro e molde os pães compridos ou redondos. Coloque-os numa assadeira grande, untada e polvilhada, deixando espaço entre eles. Deixe crescer novamente por cerca de meia hora ou até os pães dobrarem de volume. Faça cortes com lâmina afiada, leve ao forno preaquecido bem quente e deixe assar por 10 minutos. Abaixe o fogo e deixe assar por cerca de 50 minutos. Os pães devem ficar bem dourados.
Se preferir, polvilhe os pães com farinha de trigo antes de assar (e de fazer os cortes) ou molhe os pães e pressione-os sobre gergelim espalhados numa bancada.
Rende de 3 a 4 pães
Quiabo no Vapor
Ingredientes
15 quiabos grandes
1 colher (chá) de sal comum
1 colher (sopa) de manteiga ou azeite
1 colher (chá) de cominho
1 colher (chá) de grãos de coentro
1 dente de alho picado finamente
1 rodelinha de gengibre picado finamente
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada
1 colher (chá) de cúrcuma (açafrão-da-índia ou açafrão-da-terra) em pó
Uma pitada de sal
Modo de preparar: corte fora as extremidades
dos quiabos e divida-os em pedaços. Cozinhe no vapor os quiabos polvilhados com sal, por 3 minutos ou até que mudem de cor e fiquem
ligeiramente macios (sem deixar amolecer).
Numa frigideira grande e antiaderente, aqueça o óleo e coloque o cominho
e o coentro. Quando começarem a pipocar, junte o alho, o gengibre e a pimenta.
Mexa rapidamente e junte a cúrcuma e os quiabos, chacoalhando a frigideira para
que os temperos grudem no legume. Cuidado ao mexer, para que os quiabos
continuem íntegros e dignos. Polvilhe com sal e sirva.
Rendimento: 4 a 6 porções