05 junho 2012

Acrelândia 2012: Oficina com as gestantes


Por Neide Rigo 


Depois de ter dado oficinas culinárias no Senegal, fico feliz de saber que não preciso de muita coisa além de umas bocas de fogo e uma bancada para dar o recado. Uma bacia de água e alguns panos limpos ajudam. Já, um teto e cadeiras para sentar podem ser muito confortáveis, especialmente em se tratando do calor seco do Senegal ou do clima quente e úmido da Amazônia, mas não são essenciais. Então, este espaço que usamos no CRAS (centro de referência de assistência social), a convite da nutricionista Deise Bertolino, do NASF (centro de apoio à saúde da família), era um  luxo.  Uma sala comum com um fogão doméstico, uma bancada, cadeiras e, luxo dos luxos, ar condicionado. 


O objetivo da oficina era falar um pouco com o grupo de gestantes atendido pela Deise sobre alimentação saudável ante produtos industrializados e ensinar a fazer algumas coisas, como pão que elas poderiam preparar para a família, incrementando a farinha branca com algum amiláceo local,  e, quem sabe, ainda vender para melhorar a renda da família. Usamos abóbora madura. 


Estava tudo organizado para a oficina quando começou a chover. Choveu muito no horário programado e, enquanto esperávamos a chuva abrandar,  a oficina foi desmarcada pela Deise porque ali, quando chove, ninguém sai de casa. Já tinha dado a hora e ninguém apareceu. Então, melhor cancelar. Muitas gestantes moram longe, tem que enfrentar ruas de barro, e preferem não sair. Fernanda Cobayashi e eu ficamos desoladas, com os pães quentinhos esperando na varanda, todos os ingredientes separados e etapas semi-prontas, mas tentamos nos conformar. Fizemos café, fatiamos um pão ainda quente e, com as costas curvadas de frustração, estávamos quase debruçadas na mesa quando a nutricionista ligou dizendo que algumas gestantes haviam chegado. Aprumamos os ânimos e corremos para lá com nossas tralhas, ainda a tempo de ensinar a fazer pão, quiabos no vapor, bananas grelhadas sem gordura e infusão de capim santo com especiarias. Tivemos pouco tempo, pois as moças precisavam ir embora na hora certa para não chegarem de noite em casa. Mas deu tempo para mostrar alguns temperos presentes nos quintais e nos mercados locais e que elas não conheciam, falar do sódio presente nos temperos prontos, do excesso de açúcar, gordura e aditivos nos produtos industrializados, dos ingredientes nutritivos que podem incluir nos pães, do jeito de cozinhar legumes no vapor para diminuir frituras, nas ervas aromáticas que podem usar para fazer infusões e como elas podem ser gostosas quando temperadas com especiarias. Algumas botaram a mão na massa e depois todas puderam provar. 


Poucas daquelas moças cozinham em casa. Numa pergunta geral, responderam que quem cozinha é a mãe. Muitas são jovens gestantes, de quinze, quatorze anos, mas que um dia, se tudo der certo, hão de ter suas próprias casas, cozinhar para os próprios filhos, saber o que é bom para elas e para a família. Mães recentes e de primeira viagem também vieram com seus bebês. 


Algumas fotos 


Fernanda e eu, esperando a chuva passar


Fernanda, cortando maçã para colocar no chá  (o restante, comeram)
Os dois bebês ficaram quietinhos
Ingredientes comprados, colhidos, ganhados
Elas gostaram de aprender a fazer pão

Até quem não gostava de quiabos, comeu e gostou


Pão de abóbora 


1 envelope de fermento biológico seco (10 g)
1 ½  xícara de água morna
1 colher (sopa) de sal
3 colheres (sopa) de açúcar
500 g de abóbora madura cozida, fria, sem a casca - cerca de 2 xícaras da polpa amassada
1 ovo
Farinha de trigo até dar o ponto - cerca de 1 quilo (pode variar conforme a umidade da abóbora)
4 colheres (sopa) de óleo ou manteiga


Numa tigela, misture o fermento com um pouco da água. Deixe dissolver até formar um creme. Junte o restante da água, o açúcar e o sal e misture bem. Adicione a abóbora em purê, o ovo e o óleo e misture bem. Se quiser, passe esta mistura pelo liquidificador para ficar bem lisa. Vá juntando farinha de trigo aos poucos. Quando ficar difícil de mexer, passe a massa para uma superfície de trabalho enfarinhada e comece a trabalhar com as mãos, juntando farinha à medida que amassa, até formar uma massa homogênea, lisa, modelável, que se solte das mãos. Se não tiver bancada, trabalhe a massa dentro da própria bacia. Forme uma bola com a massa, cubra com plástico ou um pano. Espere crescer até dobrar de volume (caso não tenha experiência com pães, faça uma bolinha com a massa e deixe num copo com água em temperatura ambiente – quando ela subir à superfície, a massa certamente estará no ponto). Divida a massa em três ou quatro e molde os pães compridos ou redondos. Coloque-os numa assadeira grande, untada e polvilhada, deixando espaço entre eles. Deixe crescer novamente por cerca de meia hora ou até os pães dobrarem de volume. Faça cortes com lâmina afiada, leve ao forno preaquecido bem quente e deixe assar por 10 minutos. Abaixe o fogo e deixe assar por cerca de 50 minutos. Os pães devem ficar bem dourados. 
Se preferir, polvilhe os pães com farinha de trigo antes de assar (e de fazer os cortes) ou molhe os pães e pressione-os sobre gergelim espalhados numa bancada.


Rende de 3 a 4 pães  




Quiabo no Vapor


Ingredientes
15 quiabos grandes
1 colher (chá) de sal comum
1 colher (sopa) de manteiga ou azeite
1 colher (chá) de cominho
1 colher (chá) de grãos de coentro
1 dente de alho picado finamente
1 rodelinha de gengibre picado finamente
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada
1 colher (chá) de cúrcuma (açafrão-da-índia ou açafrão-da-terra) em pó
Uma pitada de sal

Modo de preparar: corte fora as extremidades dos quiabos e divida-os em pedaços. Cozinhe no vapor os quiabos polvilhados com sal, por 3 minutos ou até que mudem de cor e fiquem ligeiramente macios (sem deixar amolecer).
Numa frigideira grande e antiaderente, aqueça o óleo e coloque o cominho e o coentro. Quando começarem a pipocar, junte o alho, o gengibre e a pimenta. Mexa rapidamente e junte a cúrcuma e os quiabos, chacoalhando a frigideira para que os temperos grudem no legume. Cuidado ao mexer, para que os quiabos continuem íntegros e dignos. Polvilhe com sal e sirva.

Rendimento: 4 a 6 porções

31 maio 2012

Acrelândia 2012. Oficina com as mulheres





Por Neide Rigo 


Para as oficinas, abertas à comunidade, Fernanda Cobayashi e eu tínhamos à disposição o Centro de Florestania de Acrelândia - um salão com grandes janelas, cadeiras suficientes e uma mesa. O fogão de duas bocas com bujão de gás, deslocamos da copa. Tudo com ajuda da nutricionista da secretaria de saúde, Deise Bertolino. 


Os pratos de apoio para os ingrediente eram folhas de bananeira e de cupuaçu, além de bainha de folha de coqueiro do nosso quintal, tudo bem lavado e seco. Sobre o verde das folhas, acerolas bem vermelhas da vizinha Oliete ajudaram a compor a paleta de cores da mesa, assim como os cachos de pimenta-do-reino fresca, doação da dona Vera, vizinha da frente. 


Para o primeiro encontro, mostramos hortaliças locais e como elas poderiam incrementar pratos feitos normalmente com farinha de trigo branca. Fizemos pão com abóbora e castanha, bolo sem trigo, de mandioca e abóbora, com marshmallow de cupuaçu, panquecas sem trigo, com taioba e abóbora, e ainda spatzle de abóbora, taioba e beterraba. Havia muita abóbora por lá.


Na segunda oficina trabalhamos com frutas e temperos. O mamão verde encontrado em terreno baldio virou salada temperada com chicória (coentro de folha larga), limão, pimenta ardida e sementes de gergelim, enquanto a banana comprida, como é chamada por lá a farta banana-da-terra, que trouxemos do Ramal do Remansinho, no Amazonas, foi transformada num curry feito com cúrcuma fresca, miolo de capim santo, grãos de coentro e de cominho, pimenta, leite de castanha e suco de cupuaçu para acidular. As castanhas, compradas no Seu João, eram inteiras e Fernanda passou um tempão quebrando com a ajuda da Maria. 


O curry deve ter ficado bom, pois não sobrou nada para eu provar. Teve ainda pão doce feito com a polpa do cupuaçu, castanhas,  uva passa e temperos como cúrcuma fresca, canela e raspas de limão.  Ficou com sabor de panetone. Fernanda já não aguentava mais tirar polpa de cupuaçu na tesoura. Para acompanhar tudo, chá de hibisco com capim santo, casca de laranja, cravo e canela. 


Como era a última oficina, não levei nada de volta pra casa. Quem participou, pode levar para casa tudo o que havia na mesa e as crianças saíram felizes. Super interessadas, queriam saber tudo sobre os ingredientes - se podiam plantar, como deveriam preparar. Porém, o mais animado era Thiago, que queria ajudar em tudo, de picar temperos a sovar o pão para depois levar para assar em casa. No final, ele, muito tímido,  veio me perguntar, se eu não queria tirar uma foto com ele com meu celular, que era pra eu guardar de lembrança. Na hora do clique, ele me disse baixinho "é que eu gostei muito da aula da senhora".  


Outro brinde foram algumas mudas de frutas que fizemos nas cascas de coco (com inspiração naquela) e de cupuaçu. As mudas foram recolhidas do quintal da casa onde estávamos hospedadas. Embaixo de uma mangueira havia dezenas de caroços brotando, então isto foi coisa fácil. Difícil foi só abrir o coco ao meio - mas não me atrevi, pedi para o vendedor de coco que prometeu abrir quantos cocos eu quisesse, do que sobrasse dos clientes. O cupuaçu, serrei com uma faca e dei uma martelada. 


Oficinas de culinária? uma mesa, um fogão, ingredientes e disposição. Simples e barato assim. E, num lugar sem jornal, sem cinema, onde os únicos pontos de encontro são igrejas ou bares, ou no sofá em frente à TV, cozinhar coletivamente é um ótimo pretexto para se fazer ou encontrar amigos, aprender e discutir sobre comida.  


















25 maio 2012

Acrelândia 2012: pavê de pão e cupuaçu para o piquenique das crianças



Por Neide Rigo


Precisamos improvisar um doce para levar para o piquenique das crianças, porque criança que é criança gosta de doce. E se pudesse usar o cupuaçu, que ganhamos aos montes da vizinha Oliete, tanto melhor. Quis fugir do previsível creme de cupuaçu com creme de leite e leite condensado. Lembrei-me então da receita de uma amiga, feita com pão, cenoura e coco e resolvi arriscar com os novos ingredientes. Fiz todas as adaptações possíveis e ainda acrescentei castanhas picadas e três acerolinhas para enfeitar.  As crianças e adultos adoraram. Senti que preferiam se tivesse mais açúcar, um padrão mais "leite-condensado,  mas gostaram mesmo assim e elogiaram. 


 



TORTA/ PAVÊ DE PÃO DOCE COM CUPUAÇU E CASTANHAS

Ingredientes
10 bisnagas doces grandes de padaria ou pão de leite
Calda
2 xícaras de água
1 xícara de açúcar
1 xícara de polpa de cupuaçu tirada com a tesoura (não dessas polpas aguadas em saquinho)
1 pau de canela
Recheio
3 xícaras de polpa de cupuaçu
1 xícara de açúcar
1 xícara de castanhas picadas
Cobertura
2 xícaras de leite
½ xícara de chocolate em pó
4 colheres (sopa) de açúcar
2 colheres (sopa) de maisena diluída em um pouco de leite

Modo de preparo: pegue uma travessa grande (pode ser travessa para fazer lasanha) com bordas meio altas para que a torta não se espalhe pelos lados. Corte os pães de comprido em três fatias, reserve.
Faça a calda: bata no liquidificador a água com o açúcar e o cupuaçu. Leve ao fogo com a canela e deixe ferver, e desligue o fogo. Deixe esfriar um pouco.
Faça o recheio: misture o cupuaçu bem picado junto com o açúcar e leve ao fogo. Quando ficar bem cremoso, desligue o fogo e junte metade das castanhas – reserve o restante para a cobertura.
Montagem: coloque uma camada de fatias de pão (com o lado mais escurinho virado para baixo e molhe com um terço da calda. Coloque metade do creme de cupuaçu, espalhe, coloque mais uma camada de fatias de pão (as fatias do meio), molhe com mais um terço de calda. Espalhe o doce de cupuaçu restante e  outra camada de pão (com casca para cima). Molhe com o restante da calda. Agora coloque na geladeira coberta com papel alumínio bem pressionado, até gelar. Só então coloque a cobertura.
Cobertura: numa panela misture o leite, o chocolate, o açúcar e leve ao fogo. Quando ferver, junte a maisena diluída e cozinhe mais um pouco até engrossar. Despeje ainda quente sobre a torta, espalhe as castanhas e deixe na geladeira até gelar. Decore com acerolas, se quiser.  

Rende mais ou menos 20 porções


Acrelândia 2012: Piquenique na escola


Por Neide Rigo 


Logo nos nossos primeiros dias em Acrelândia, Fernanda Cobayashi e eu,  junto com a nutricionista da merenda escolar, Thassiane,  fomos até a escola rural José Rodrigues Casseminiro, no Ramal da Floresta, mais conhecido como Ramal do Bigode, para fazer o convite para um piquenique.  


As crianças que estudam ali moram nos ramais.  Ramal é o nome das estradas de terra que levam a comunidades rurais. Dizer que mora no ramal já é dizer que mora na zona rural. 


A cidade de Acrelândia acabou de fazer 20 anos e praticamente todo mundo que vive na zona urbana também tem sua colônia nos ramais. Colônia é o nome que se dá ao sítio, roça, chácara, fazenda. Foi a partir destas propriedades que o município começou a se desenvolver ali em plena floresta amazônica, desmatada para dar lugar a gente, agricultura, pecuária. Então, não se pode esperar encontrar em Acrelândia o acreano típico, que não há, mas gente que circula eternamente por este Brasil em busca de oportunidades. 


Crianças que acompanham os pais pra lá e pra cá são morenas, lourinhas, gaúchas,  paranaenses, catarinenses, que nasceram no Paraná, moraram no Paraguai e se assentam agora ali, sem saber se ficam, se vão. Algumas gostam de pepino, outras se acostumaram ao cupuaçu que agora tem nos quintais.  Umas comeram uvas e peras quando bebês e sentem saudade, outras nunca provaram, preferem o caju. Em comum, todas adoram maçãs argentinas que podem ser encontradas nas gôndolas refrigeradas dos supermercados,  ainda proibidas pela raridade naquela terra quente e úmida, boa para bananas compridas, cajus, jambos, cupuaçus, laranjas e cocos. Aos poucos, vão aprendendo a esquecer uvas e peras e a gostar de cupuaçus que se perdem debaixo das árvores, no chão forrado de folhas úmidas qual ninho. Cupuaçus, nesta época do ano, despencam de maduros e só estão bons assim, quando caem. Só não peçam que esqueçam as maçãs.


No convite, pedimos às crianças que levassem o que quisessem, o que tivessem no quintal, o que a mãe pudesse fazer ou qualquer coisa que houvesse na despensa e julgassem ser bom para dividir com os colegas. A ideia era discutir de uma forma leve sobre os alimentos que levassem, além de provocar a pura diversão no encontro em volta de uma toalha para brincar, compartilhar e concretizar os sonhos de criança com os piqueniques de desenho animado. Todas sabiam o que era um piquenique mas nunca tinham feito. Coisa de Zé Colmeia, achavam.  Ficaram animadíssimas. 


Convidamos apenas três classes - para que depois professores se animassem com o modelo e estendessem aos demais.  Piquenique pode ser pretexto bom para ensinar matemática (a fração dos bolos e tortas), biologia, geografia, artes,  história e outras obviedades que os ingredientes da mesa despertam. Pensamos em fazer o piquenique no páteo da escola, mas não havia gramados nem sombras no terreno pouco convidativo. Então deixamos combinado que faríamos na maior sala, que foi limpa e teve as cadeiras afastadas. 


No dia combinado, uma sexta-feira, fizemos a nossa parte - pão de cupuaçu, torta-pavê-de-pão com recheio de cupuaçu e cobertura de chocolate com castanhas, chá de capim-santo, pão de abóbora com castanha, mamão picado e salada de pepino, que eu achei que sobraria. 


Aliás, achei muitas coisas que se provaram preconceitos. E Fernanda também. Achamos, por exemplo, que as crianças levariam produtos industrializados como biscoitos recheados, suco de pó, refrigerantes, isoporzinhos etc. Para nossa surpresa, elas foram nos passando as coisas pela janela para arrumarmos na toalha que levamos. E o que apareceram? cupuaçus aos montes, suco de cupuaçu, mexericas, laranjas, mandioca cozida e frita, bolinho tipo cueca-virada, bolo de fubá e algumas maçãs. Thassiane levou polpa de graviola que virou suco na cantina da escola. Conversamos um pouco sobre o que havia na mesa e ficamos observando a alegria dos pequenos. Muitos vieram dizer que iriam fazer piqueniques com outros amigos da colônia, com os irmãos, com as famílias. Meninas mais velhas vieram tirar satisfação do porque de não terem participado. De qualquer forma, já haviam falado com o professor de artes para incluir a atividade na disciplina e já estavam todas empenhadas na organização. Ficaram de mandar fotos - estou esperando. 


Saímos de lá satisfeitas com a experiência e esperando que outras classes e professores se animem com a ideia, afinal isto é uma coisa simples que não precisa de nossa presença para dar certo, que pode estimular crianças a se alimentarem bem, a dar valor aos produtos locais e a tirar proveito deles. Sem contar que elas ficam felizes. Enquanto municípios pensam em lousas digitais e tablets para professores, é bom que se saiba que há outras ferramentas que nada custam e problemas muito básicos a serem resolvidos, como a merenda escolar, muito pobre naquela escola, a falta de conforto nas salas de aula e, talvez o mais importante de tudo, investir na formação e remuneração dos professores.


Algumas fotos

Saco de laranjas

Biscoitos tipo cueca-virada, embrulhado com capricho

Maçã, todo mundo quer uma fatia

Nossa parte: pão de cupuaçu e pão de abóbora

Garrafa de coca-cola com suco de cupuaçu


Nossa parte: pães, manteiga, bolo de aipim e jerimum, pavê,  mamão, pepino
Jessiane levou aipim frito


E cupuaçu, quem tem? Eu, eu, eu
Lorrane, que vai ser médica,  comeu muito pepino na vida e disse que enjoou

Claudiane diz que gostou de tudo


O que sobrou
Do pepino que temperei com rúcula, pimenta, lasquinhas de tomate, limão

Só Pablo, comeu três pratos

Thassiane, Fernanda e eu eu, cansadas mas safisfeitas

As crianças, também. Fazendo farra no ônibus de volta pra casa

20 maio 2012

Acrelândia 2012: o preparo das oficinas

Coleta urbana - mamão, taioba, alfavaca, cúrcuma, folha de bananeira

Por Neide Rigo

Fernanda Cobayashi e eu chegamos em Acrelândia com algum tempo pra planejarmos as oficinas. Eu brincava com ela dizendo que me sentia muito lisonjeada por ter na cozinha como ajudante uma pós-doc,  que quebrou muita castanha e tirou muita polpa de cupuaçu na tesoura, até o ponto de se enjoar do cheiro.  Mas a verdade é que nós duas trabalhamos muito. E não só. Estávamos em seis na casa (as outras, pesquisadoras do projeto de Malária) e todas nos ajudaram muito na hora das oficinas. Para saber mais sobre os dois projetos, de nutrição e de malária, acho que este outro post da minha primeira ida a Acrelândia explica melhor: http://come-se.blogspot.com.br/2011/07/come-se-volta-de-acrelandia.html


No domingo ainda tivemos a visita da amiga Patrycia e do marido Marcos, que nos levaram vários presentes gastronômicos de Rio Branco, onde moram, já que desta vez não tivemos tempo para visitar a cidade: massa de tapioca, ingás, coquinhos oricuri, cuscuz com leite de castanha,  castanhas frescas, pé-de-moleque na folha de bananeira e batatas de taioba. Aliás, ela também postou no blog dela, Mesa na Floresta,  sobre a visita.  As castanhas foram muito úteis nas oficinas - numa delas usamos na forma de "leite". 



Cupuaçu em terreno baldio


Cupuaçus desperdiçados no chão, da vizinha Oliete
Percebemos que alguns poucos dias (no nosso caso, uma semana) são importantes para que se estabeleçam contatos pessoais com a comunidade e também com os profissionais da área de nutrição do município.  Embora tivéssemos feito uma programação,  sujeita a alterações, assim que chegamos à cidade, já começamos a mudar de rumo. A primeira sugestão para a oficina estava ali no quintal da vizinha da casa onde nos  hospedamos. Havia muitos cupuaçus desprezados no chão. Da primeira vez que estivemos lá notamos a grande quantidade de pés de cupuaçus, mas já não era mais época. E só agora, em plena safra, percebemos a quantidade de frutas desperdiçadas nos quintais. Não só cupuaçu, mas também acerolas, jambos e vários temperos.  Ganhamos muitos cupuaçus da vizinha, Oliete, que alegou não ter tempo para prepará-lo, e já os reservamos para as oficinas.  

Coentro de folha larga (ou chicória), num quintal 

Canteiro de cebolinha 
Horta e canteiro de cebolinha à altura da janela para facilitar a colheita
No dia seguinte, andando pela cidade, uma mulher nos convidou a ver seu quintal,  repleto de chicória ou coentro de folha larga, que crescia feito mato. Em outro, muita cebolinha. 


Uma característica dos moradores da cidade de Acrelândia é que quase todos têm também um pedaço de terra na zona rural onde podem plantar. Quando não tem, ganham frutas e hortaliças dos vizinhos. Por isto, banana-da-terra e abóbora são itens fáceis de se ter em casa sem que se os tenham comprado. Outros ingredientes podem ser encontrados nos espaços públicos como praças, calçadas e terrenos baldios. É o caso, por exemplo, de alfavaca, cúrcuma, taioba ou mamão que usamos nas oficinas. 

Dona Rute

Cúrcuma

Dona Vera e pimenta olho de peixe

Dona Vera e pé de pimenta-do-reino

Conhecemos ainda os quintais de Dona Rute e Dona Vera, que nos cederam gengibre, taioba, cúrcuma, pimenta-do-reino, pimenta ardida.   Reservamos também um dia para conhecer o Projeto Dois, uma horta muito perto da cidade tocada pelo Seu Dorival e seu filho Carlinhos. Como defensivos contra pragas usam apenas uma calda de pimenta e temperos.  Numa manhã, que tinham entrega na cidade, ganhamos deles uma cesta de hortaliças muito frescas - aproveitamos os pepinos e a rúcula para uma salada que levamos para o piquenique na escola rural. 


Horta do Seu Dourival - Projeto 2 

Carlinhos nos trazendo hortaliças

Fernanda com as hortaliças colhidas naquela manhã
Sabendo que o comportamento alimentar da população de Acrelândia não difere muito daquela do restante do país, seguindo uma tendência de redução no consumo de frutas e hortaliças e aumento de produtos industrializados, e diante do cenário encontrado, não foi difícil definir o formato final das oficinas.

No que se refere à escolha de ingredientes, um dos objetivos, além de incentivar o consumo de frutas e hortaliças, era valorizar o uso de produtos locais e daí a importância de visitar casas, mercados e hortas no município. 

Cará moela subindo em pé de mamona

Muita taioba e cúrcuma em terreno baldio 

Fernanda com a sacola cheia - nossa coleta urbana

Outros produtos acreanos - pesentes da Patrycia, que também serviram para as oficinas