Por Neide Rigo
Para as oficinas, abertas à comunidade, Fernanda Cobayashi e eu tínhamos à disposição o Centro de Florestania de Acrelândia - um salão com grandes janelas, cadeiras suficientes e uma mesa. O fogão de duas bocas com bujão de gás, deslocamos da copa. Tudo com ajuda da nutricionista da secretaria de saúde, Deise Bertolino.
Os pratos de apoio para os ingrediente eram folhas de bananeira e de cupuaçu, além de bainha de folha de coqueiro do nosso quintal, tudo bem lavado e seco. Sobre o verde das folhas, acerolas bem vermelhas da vizinha Oliete ajudaram a compor a paleta de cores da mesa, assim como os cachos de pimenta-do-reino fresca, doação da dona Vera, vizinha da frente.
Para o primeiro encontro, mostramos hortaliças locais e como elas poderiam incrementar pratos feitos normalmente com farinha de trigo branca. Fizemos pão com abóbora e castanha, bolo sem trigo, de mandioca e abóbora, com marshmallow de cupuaçu, panquecas sem trigo, com taioba e abóbora, e ainda spatzle de abóbora, taioba e beterraba. Havia muita abóbora por lá.
Na segunda oficina trabalhamos com frutas e temperos. O mamão verde encontrado em terreno baldio virou salada temperada com chicória (coentro de folha larga), limão, pimenta ardida e sementes de gergelim, enquanto a banana comprida, como é chamada por lá a farta banana-da-terra, que trouxemos do Ramal do Remansinho, no Amazonas, foi transformada num curry feito com cúrcuma fresca, miolo de capim santo, grãos de coentro e de cominho, pimenta, leite de castanha e suco de cupuaçu para acidular. As castanhas, compradas no Seu João, eram inteiras e Fernanda passou um tempão quebrando com a ajuda da Maria.
O curry deve ter ficado bom, pois não sobrou nada para eu provar. Teve ainda pão doce feito com a polpa do cupuaçu, castanhas, uva passa e temperos como cúrcuma fresca, canela e raspas de limão. Ficou com sabor de panetone. Fernanda já não aguentava mais tirar polpa de cupuaçu na tesoura. Para acompanhar tudo, chá de hibisco com capim santo, casca de laranja, cravo e canela.
Como era a última oficina, não levei nada de volta pra casa. Quem participou, pode levar para casa tudo o que havia na mesa e as crianças saíram felizes. Super interessadas, queriam saber tudo sobre os ingredientes - se podiam plantar, como deveriam preparar. Porém, o mais animado era Thiago, que queria ajudar em tudo, de picar temperos a sovar o pão para depois levar para assar em casa. No final, ele, muito tímido, veio me perguntar, se eu não queria tirar uma foto com ele com meu celular, que era pra eu guardar de lembrança. Na hora do clique, ele me disse baixinho "é que eu gostei muito da aula da senhora".
Outro brinde foram algumas mudas de frutas que fizemos nas cascas de coco (com inspiração naquela) e de cupuaçu. As mudas foram recolhidas do quintal da casa onde estávamos hospedadas. Embaixo de uma mangueira havia dezenas de caroços brotando, então isto foi coisa fácil. Difícil foi só abrir o coco ao meio - mas não me atrevi, pedi para o vendedor de coco que prometeu abrir quantos cocos eu quisesse, do que sobrasse dos clientes. O cupuaçu, serrei com uma faca e dei uma martelada.
Oficinas de culinária? uma mesa, um fogão, ingredientes e disposição. Simples e barato assim. E, num lugar sem jornal, sem cinema, onde os únicos pontos de encontro são igrejas ou bares, ou no sofá em frente à TV, cozinhar coletivamente é um ótimo pretexto para se fazer ou encontrar amigos, aprender e discutir sobre comida.
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